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Rumo a lugar algum

Por Leandro Salgentelli •
sexta-feira, 8 de maio de 2020


Quando escrevi a crônica que dei título ao meu livro Oceano de sentimento não sabia quantas emoções me alcançaria de 2015 para cá. Não espera as águas turvas, os dias de sol e os dias de chuva. Como também não esperava que iria conhecer Copacabana, que iria conhecer pessoas incríveis, que iria viver uma paixão proibida e que faria loucuras para viver uma história que algum momento sofreria com a ruptura.

No texto, tentava expor a fragilidade humana, o quanto o vazio é inerente a qualquer idade, e que, portanto, somos, sim, de fato sensíveis, que tem dias que estamos movediços, em outros, calmo. Que tem dias que precisamos da letargia, do silêncio, do estar em própria companhia para se reencontrar.
O curioso é que nesse esforço da submersão acabamos por perder a fadiga. É natural. Como também é natural ter medo, ficar inseguro, sentir saudade, sentir a ausência a ponto de perder o rumo.

E por falar em rumo, certa vez fui para lugar algum. Sem prévia de chega. Peguei um trem e fui a São Paulo — não lembro o que me cabulava na época, mas lembro-me do que senti.

Senti minha própria presença. Com o celular desligado, me vi diante dos arranha-céus da Paulista num domingo ensolarado à tarde. E diante de um vem e vai, da diversidade de pessoas, senti liberdade.

Ah, era uma liberdade tão boa. Eu estava perdido para quem vive no meu epicentro, mas eu estava em mim. Ali eu não tinha endereço, RG, CPF, compromisso no dia seguinte. Ali eu não tinha nome. Eu era um estrangeiro no meu próprio país. Eu era um estranho andando sem rumo.

À noite, voltei para casa, voltei para o abraço da minha cama que tanto conhece meu corpo. Voltei para meu cotidiano simplificado. Voltei para aquele eu da superfície que busca incessantemente dar sentido à existência.

Sempre é preciso mergulhar, caminhar nesse labirinto que somos, andar em círculos, ter vertigem, perder o rumo. Não parece, mas dessa maneira também é possível se encontrar.


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