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[CRÔNICA] PRINCESAS MODERNAS

Por Francine S. C. Camargo •
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Histórias não surgem facilmente todos os dias. Tem hora que a imaginação sucumbe e resolve dar uma descansada, pois uma mente em atividade ininterrupta também se exaure.

Mas a maternidade há sete anos cobra novidades. Cada dia uma história nova, o que já extinguiu as possibilidades dos velhos contos de fadas batidos, admitindo inclusive, algumas variações, não tantas que causem muito estranhamento. Passamos pelas estórias cantadas, narradas pelo aparelho celular, novelas que duraram toda uma semana e pelas curtinhas inventadas por eles, ajudando um pouco a carregar a carga da inspiração.

Hoje nada veio, mas eu estava lá, em pé, ensaiando representar alguma história que ainda não havia aparecido na cabeça. E eles esperavam.

Começou a básica princesa no castelo, presa no topo. Por quê? Porque princesas ficam presas nos pontos mais altos dos castelos, sem motivo nobre, nada justifica, mas as histórias são assim. No nosso caso, os pais, rei e rainha, tinham um medo danado de que ela fosse sequestrada e levada de perto deles. Então a protegiam para que nada de mal lhe acontecesse.

Balela. A princesa ficava sozinha. Isso é fazer o bem? Eles perceberam.

A princesinha só comia e pensava.

Tinha que ir para algum lado essa história. Pois bem, ela cantava o tal do:

“Sou tão triste, tão sozinha,
levo a vida a suspirar,
esperando por aquele
que há de vir e me salvar...”

Querendo acabar logo com o canto alternado à narração, chegou o príncipe, tendo escutado obviamente a doce voz da princesa. Ele chegou todo cheio de forma e tato, escalou, escalou e escalou até vê-la. Mas, para fim de enrolação, o fato é que ele se recusou a descer com ela nas costas e ela também não achou nada apropriado sair arrebatada por um nobre príncipe que, no entanto, mal conhecia.

Como encerrar essa pendência?

O príncipe se foi. Outros vieram. Mas ninguém encontrou uma alternativa para socorrê-la.

Não poderia acabar assim.

E aí é que os exemplos da vida real surgiram na mente de nós três. Lampadinha acesa. Então, a princesa teve uma ideia. Já que ela não fazia nada, só pensava e comia, pensava e comia, resolveu aproveitar o tempo fútil para produzir algo que pudesse beneficiá-la.

Primeiro começou a comer menos e guardar os restantes das refeições para fazer um estoque. Quem sabe lhe seriam úteis em uma aventura futura?

Depois, começou a costurar uma sacola com os próprios fios de cabelo, a fim de carregar essa comida toda que ela acumulava.

E, por fim, mas mais importante, ela começou a se exercitar. Fazia ginástica todos os dias e foi ficando forte. Resistente. E se sentiu tão bem ao fim da maratona que decidiu ela mesma descer do castelo, sem esperar por ajuda.

E com os músculos das pernas, tronco e braços hipertrofiados, ela enfim conseguiu descer com todo o cuidado os tijolos do castelo que a prendiam por tantos anos.

Desceu, procurou uma vila e começou a trabalhar, criou seu próprio negócio: costurava e vendia suas bolsas para toda a comunidade. Seus pais tiveram que aceitar sua liberdade, pois claro que a amavam muito. E a felicidade no rosto dos pequenos ao entenderem que ela ficou melhor em sua independência é lição que os contos de fadas antigos não ensinam, não.

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