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CORRO PERIGO

Por Francine S. C. Camargo •
domingo, 1 de julho de 2018


“Mas sou minha, só minha e não de quem quiser”(Legião Urbana)

Essa é mais uma da série “Eu sou mulher”. Sim, sou mulher, mas Shakespeare estava enganado, já que fragilidade não é o meu nome. Sim, sei o que quero. Sim, eu nasci mulher e me tornei mulher. Sim, muitos pensam que sabem como pisar no coração de uma mulher. Não, meu barro não pode ser decantado facilmente em uma canção. Sim, há sempre algo novo a aprender sobre mim.

Mas não sou um perigo para qualquer paraíso. E, no entanto, corro perigo.

Uma quase breve história:

Estudante de 18 anos sai de sua casa na periferia de São Paulo, em direção ao cursinho, e pega um daqueles ônibus bem conhecidos aos iniciados na arte do transporte público, atolado, cheio de vidas tentando atingir seus rumos. São 6h da manhã e o dia urge, e ela fantasia de todo o coração não perder os primeiros quinze minutos de aula como de costume. Em um dos braços, carrega uma apostila e alguns livros que usará nos intervalos das aulas; no outro, uma bolsa estilo mochilinha, colocada de lado a fim de sentir-se mais segura, afinal já eram tempos violentos, mesmo há 20 anos. Nada carregava de valor na bolsa que mal aprendera a reconhecer a utilidade. Viajava com as mãos ocupadas, mas a mente etérea argumentando com todas as suas faces sobre a possibilidade do futuro mais longínquo. Até que ela sente. Bem atrás dela. Mas acredita ser um engano e busca, então, novo posicionamento o que é utópico, pois não há mísero espaço sequer para piscar. Impõe a si mesma essa autoria de que o micrômetro que se mexeu teria sido suficiente para desvencilhar-se daquele volume que se encostava em seu quadril. Mas não foi. Olha para as pessoas sentadas diante dela, as mesmas em quem, a cada freada do ônibus, seus materiais são comprimidos. Ela as incomoda e a devolutiva de olhar quer dizer mais ou menos que “pouco me importa o que você sente, sou eu que estou desacomodada com esses livros a me bater”. O que querem é chegar, não importa onde ou às custas do quê. E ela, a estudante, é só mais uma...mulher.

Tão mulher que o tipo atrás só quer se escorar cada vez mais e se friccionar. Assim, ela grita intimamente, mas o som silencia. Pois lhe é permitido ficar calada. Quando percebe, seu ponto está chegando e é hora de procurar algum espaço para chegar à porta de saída, e agarra-se a essa oportunidade. Porém sente a presença dele atrás de si, feito sombra a seguir seus passos, embora não ouse estabelecer qualquer contato visual. Não deseja conhecer o rosto daquele que lhe roubou o equilíbrio e a inocência. Tampouco quer ser vista.

Ela desce no ponto seguinte e caminha na maior velocidade que os pés podem servi-la. E ele a rastreia:

- Vai dizer que não foi gostoso?

Novamente ela grita e ali, na vida real, o som sai abafado:

- Não. Me deixe em paz!

E já se vê à porta do cursinho, entra correndo com o rosto inflamado, o coração inteiro em chamas e, sobretudo, uma raiva inanimada de si mesma.

Sim, ela sofreu assédio sexual. Mas nunca se ouviu nada de seus lábios, pois a culpa a emudeceu.

Não, não quero só diversão. Não, não mereço um tijolo na testa. E não sou Maria Ninguém.

Sou mulher sim. Mas corro perigo.

Comentários via Facebook

50 comentários:

  1. Cabine de Leitura4 de julho de 2018 09:27

    Palavras profundas, que descreve a infeliz realidade de muitas mulheres dentro dos transportes públicos do país e como disse, a ela foi dado o direito de se calar. Quantas não passam por isso e simplesmente se culpam pela situação, aprendemos de berço a nos dar o respeito, mas esquecem de ensinar aos homens a respeitar.

    Abraços.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com/

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 13:52

      Obrigada por passar por aqui, Camila. "Sou uma mulher que balança, sou uma criança que atura" (Martha Medeiros)

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  • Srta. Bookaholic4 de julho de 2018 11:47

    Oi, tudo bem?
    Gostei muito do texto, pois o mesmo narra de forma muito realista algo que acontece frequentemente com as mulheres. E é tão triste ler isso e falar que é uma realidade, pois é doloroso passar por algo assim e como o texto diz, as mulheres não gritam sobre esse assedio porque se sentem culpadas... Enfim, é revoltante o quanto nós, mulheres, corremos perigos e é muito importante falar sobre isso, por isso parabéns pelo post.

    Beijos :*

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 13:55

      Oi, Larissa, tudo bem e contigo? Obrigada pelas suas palavras. "Mulher lua, a outra face, a face nua...o que é mistério, o que se espera...o que é firme, o que é beleza...o nascimento, a incerteza." (Rayme Soares)

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  • Laneeh Martins4 de julho de 2018 20:14

    Olá, tudo bem?

    Que texto. Que palavras. E que triste realidade. E parece que isso não terá fim. E infelizmente, nem todas conseguem ter voz para se defender e denunciar. E quando tem, sentem medo por ninguém acreditar.

    Beijos

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:03

      Laneeh, muito obrigada.
      "Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.
      (Cora Coralina)

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  • Aline M. Oliveira5 de julho de 2018 11:30

    Olá! Só uma mulher sabe o que é ler esse texto e sentir exatamente o que é descrito. medo, culpa, insegurança. Eu fui lendo e sentindo um gosto amargo na boca, de ódio e tristeza e, saber que isso acontece todo santo dia, e em sua maioria esmagadora, ninguém é responsabilizado por nada. É horrível pensar que por somente ter nascido mulher, estejamos sujeitas a isso. Eu escolho acreditar que algum dia, vai ser diferente. Amém.

    Bjoxx ~ www.stalker-literaria.com

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:05

      Olá, Aline. Esse gosto amargo não sai mesmo da boca, não importa quantos doces a gente tente ingerir para disfarçar o sabor.

      "Oh! como és linda, mulher que passas
      Que me sacias e suplicias
      Dentro das noites, dentro dos dias!" (Vinícius)

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  • Eu achei esse texto um retrato da realidade brutal da mulher, principalmente porque já passei por isso várias vezes. Medo, culpa, insegurança e mais culpa - culpa por ter um corpo "chamativo", culpa por ser mulher, culpa por não ter falado nada ou culpa por ter falado e ser chamada de histérica e sentir vergonha por isso.
    Às vezes ser mulher é um fardo.
    Mas mil vezes o meu fardo do que ser um homem escroto sem cérebro (e o mundo está cheio deles, diante de muitos que ainda se salvam).
    Bjos
    Lucy - Por essas páginas

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:07

      Lucy...culpa, culpa, culpa...como ela nos acompanha, não?

      "Teus sentimentos são poesia
      Teus sofrimentos, melancolia." (Vinícius)

      Beijos.

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  • Carol Oliveira5 de julho de 2018 22:41

    Infelizmente esse é o retrato do que a maioria das mulheres passa diariamente no mundo. Infelizmente temos que viver e correr o perigo, só precisamos ser fortes e darmo-nos forças para que nenhuma de nós fique mais muda!

    Ótimo texto e muito reflexivo!

    Beijos
    Carol
    www.thereviewbooks.com.br

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:09

      Obrigada, Carol.

      "Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária.
      A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma." (Anaïs Nin)

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  • Vitória Doretto6 de julho de 2018 16:34

    Oi, Francine
    É, é doído ser mulher. E é doído ser lembrada desse tipo de situação que acontece todo dia, toda hora e em todo lugar (sejam ônibus, metrô, filas...). A gente não pode ficar distraída nenhum minuto fora [e em muitas vezes também dentro] de casa, senão o mundo [para não falar outra coisa] nos engole - e não, a culpa não é nossa.
    Sejamos fortes e lutemos bravamente.
    Beijos!

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:11

      Oi, Vitória. Sim, a força vem de não deixar que esse mundo não nos engula, pois quem tem sede e fome somos nós.
      Beijos.

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  • Oi tudo bem? Esse texto mexe muito com nós por ser mulher, vivemos num conceito onde a mulher é culpada das coisas ruins que lhe acontece, pois deu confiança, roupas curtas, maquiagem extravagantes, mas somos fortes e temos que exigir respeito. Somos prisioneiras dentro de um sistema machista, adorei esse texto é profundo, ao mesmo tempo é revoltante e triste pois é uma situação vivenciada por muitas.

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:11

      Oi, Cris, tudo bem e você?
      "A dor que sente não tem nome. Brota das razões mais secretas da alma." (Padre Fábio de Melo)

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  • Entre Livros e Amores7 de julho de 2018 18:26

    Oi
    Fiquei com um no enorme na garganta quando li o seu texto, pois infelizmente é a realidade de muitas mulheres que tem suas vozes silenciadas. Somo consideradas o famoso sexo frágil, mas quem deu esse nome, mesmo? Com certeza não era uma mulher, pois nós sabemos que de frágil não temos nada. Hoje somos julgadas e assediadas até pelo modo que falamos, agimos ou até mesmo sentamos. Eu tenho fé que um dia tudo isso irá acabar que nossa voz será mais ativa e que vamos parar de receber a culpa de uma violação contra o nosso corpo só por que estamos fazendo algo.

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:15

      "Debaixo da maquiagem e por trás do meu sorriso, eu sou apenas uma menina que deseja o mundo."(Marilyn Monroe)

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  • Aninha Goulart7 de julho de 2018 20:26

    Oiii,

    Que texto interessante. So nós sabemos como é difícil ser mulher hoje, como nos classificam e como realmente corremos perigo única e exclusivamente por sermos mulheres. Adorei mesmo o texto e espero que ele alcance muitas pessoas mais <3

    Beijinhos...
    http://www.paraisoliterario.com

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:16

      Oi, Aninha.
      Obrigada pelas palavras.
      "Guarda-Me, Como a Menina dos seus Olhos.
      Ela é a Tal, Sei que Ela pode ser Mil, Mas não existe outra igual."

      (Chico Buarque)

      Beijinhos

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  • Vitória Zavattieri9 de julho de 2018 17:49

    Ooi,
    Adorei o texto e quase pude sentir o desespero da protagonista. Infelizmente esse é nosso estado constante, correr perigo é nossa realidade. Gostei bastante do texto e achei muito boa sua escrita, parabéns!

    Beijos!

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    1. Francine S. C. Camargo10 de julho de 2018 14:21

      Muito obrigada, Vitória.

      "Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários." (Cris Carvalho)

      Beijos

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  • Essa realidade do assédio é uma situação bem triste que ocorre na nossa sociedade, ótima crônica.

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 14:05

      "O que há de mais seguro, também corre perigo."

      Engenheiros do Hawai

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  • Tão triste, tão revoltante. Que não nos roubem a voz para seguir reivindicando por justiça quando nos sentimos assediadas, violadas e abusadas.
    Beijos

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 14:03

      "O perigo não nos é externo, nenhum muro nos separa do inimigo. Ao contrário, os perigos mortais estão dentro de nós."

      Sêneca

      Beijos, Ivi.

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  • Garotas Devorando Livros10 de julho de 2018 21:48

    Olá!

    Tão real, revoltante e recorrente que chega a dar nojo. Enfim, só nós mulheres sabemos o que ser quem somos e o pior é que nem culpa de ser mulher nós temos. Espero que possamos nos unir no caminho até o cursinho, ao trabalho, para casa ou em qualquer lugar. Parabéns pelas palavras.

    Beijos

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 14:00

      "Entre as pequenas coisas que não fazemos e as grandes que não podemos fazer, o perigo está em não tentarmos nenhuma."

      Confúcio

      Beijos.

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  • Jessica Christina10 de julho de 2018 22:16

    Caramba, que real.
    Acho que toda mulher já passou por uma situação assim ou parecida. Seja a escorada no ônibus, ou uma palavra vulgar no meio da rua, e é sempre desconcertante e cruel. Espero que um dia, a gente viva em um mundo onde coisas como no seu texto sejam uma mera lembrança, ao invés da realidade.

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 13:59

      "Quem escapa do perigo vive a vida com outra intensidade."

      Machado de Assis

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  • Olá, tudo bem? Que texto duro, mas infelizmente real... É muito triste o que temos que enfrentar dia após dia, principalmente quando sofremos caladas. Amei o texto!

    Beijos,
    http://duaslivreiras.blogspot.com/

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 13:56

      "No entanto, estaremos sempre em perigo enquanto soubermos tão pouco sobre nós mesmos."

      Martha Medeiros

      Beijos, Larissa, obrigada.

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  • Oie!
    Que triste realidade, infelizmente muitas mulheres passam por isso diariamente. Um ótimo texto, que faz refletir e incomoda, mas que é muito rela.
    Gostei muito!
    Bjks!
    Histórias sem Fim

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 13:54

      "Nós precisamos entender melhor a natureza humana, porque o único perigo real que realmente existe é o próprio homem."

      Carl Jung

      Beijos, Carla, obrigada!

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  • Maria Luíza Lelis11 de julho de 2018 22:19

    Olá, tudo bem?
    Que texto sensacional! É triste, mas forte e reflexivo.
    Infelizmente, é uma realidade que muitas mulheres vivenciam todos os dias. Além do assédio, ainda há o julgamento e a culpabilização que calam as vítimas .
    Parabéns pelo texto! Por mais difícil que seja, é um assunto sobre o qual precisamos falar e refletir.
    Beijos!

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 13:52

      "Corro perigo
      Como toda pessoa que vive
      E a única coisa que me espera
      É exatamente o inesperado"

      Clarice Lispector

      Obrigada, Maria Luíza.

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  • Deus! Que texto maravilhoso! E quanta verdade! Sim, corremos perigo. O tempo todo. Somos assediadas, menosprezadas, tratadas com desdém e desrespeito. E dia a dia lutamos pelo nosso espaço, travando uma batalha contra a própria sociedade que não deixou de ser machista.

    Não podemos estudar ou trabalhar em paz. Ir à festas, baladas, ao cinema. Usar as roupas que queremos, passar o batom que desejarmos. Tudo é motivo de crítica. É desculpa para o assédio e a opressão. Somos mulheres. Livres, mas tendo que lutar todos os dias, com unhas e dentes, para mantermos nossa liberdade.

    Amo seus textos!

    Bjs!

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 13:51

      "Há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas!"

      William Shakespeare

      Obrigada, querida! Bjs

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  • Olá,

    É assustador ser mulher, às vezes! É horrível sair na rua e ter que ficar olhando por cima do ombro, não poder relaxar e estar em constante vigília, a sensação não poderia ser pior. Gostei da realidade impressa em seu texto.

    Beijos,
    oculoselivrosblog.blogspot.com.br/

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 13:45

      "O medo nunca está no perigo, mas em nós."

      Stendhal

      Obrigada, Thayenne. Beijos.

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  • Olá!
    é assustador vê e ler essas coisas, eu tenho uma medo danado dessas coisas, e já tenho como precaução sentar sempre na ponta, nunca que fico no canto mais, por puro medo. É triste você entrar em um ônibus e ficar já com medo e escolher o lugar para sentar, infelizmente é muito triste, espero por dias melhores!

    beijos!

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    1. Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 13:44

      "O medo do perigo é mil vezes pior do que o perigo real."

      Daniel Defoe

      Obrigada, Tahis. Beijos.

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  • Manuscrito Literário7 de agosto de 2018 18:27

    Hey!
    Quando leio textos como esse, vivendo na nossa sociedade chega a ser surreal o quando dói e, o quanto ser mulher é devastador.
    Queria que mais pessoas ou o mundo todo lê-se e tomasse consciência do quanto somos desrespeitadas.
    Você foi mais do que realista aqui.
    Beijos
    www.manuscritoliterario.com.br

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  • Francine S. C. Camargo9 de agosto de 2018 13:42

    "Só me dirijo às pessoas capazes de me entender, e essas poderão ler-me sem perigo."

    Marquês de Sade

    Obrigada pelo carinho. Beijos.

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