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SEXO NO ELEVADOR

Por Leandro Salgentelli •
domingo, 5 de novembro de 2017

 Trabalho no 6º andar de uma empresa, mas como tenho uma genética sedentária, mas claro que não vou subir de escadas. Então observo de tudo no elevador: desde o constrangimento até altos papos. Li em algum lugar que esse constrangimento, aquele momento silêncio no elevador, assemelha-se a mesma intimidação ao ficar nu diante de um desconhecido. Todo mundo já ficou nu na frente de alguém, se não ficou, vai ficar. Aguardem.
 No entanto, o curioso é que diante do constrangimento, seja por estar num lugar quase que ínfimo, seja pelo estranho ao lado, seja pela falta de assunto; as pessoas falam do tempo, já percebeu? Basta que fiquemos dois segundos no elevador sem dizer uma palavrinha que algum santo vai surgir com o papo: “como está frio hoje, né?”. E diante do tempo climático, o próximo encontro vai ser “olá, tudo bem?”. E desse um “olá, tudo bem?” poderá surgir outros assuntos.

 Há que se dizer que ficar preso num elevador com um desconhecido é uma sensação horrível. Espera. A palavra horrível ficou inadequada, a sensação é: vamos nos beijar e aproveitar o tempo que ficarmos aqui?

 Já fiquei preso no elevador (não no trabalho, mas num hospital) e posso dizer com convicção que tive as fantasias mais eróticas que se possa imaginar, talvez seja um fetiche, ora, mas não é dessa forma que os filmes apresentam o convite?
 É no elevador onde o inusitado acontece.

 É numa conversa aparentemente boba que você captura uma intenção. São os olhares que se cruzam sem data e hora marcada e que se abrem portas para uma possibilidade. São os gestos que conduzem e revelam um pensamento. Enfim, é você tendo contato com seu lado mais discreto e selvagem. É diante de um assunto fajuto, de um sorriso bobo, de um olhar quase ingênuo que você poderá descobrir o amor da sua vida. Um amor que pode durar uma década, um amor que poderá vir a ser um rapidíssimo affair, um amor que poderá vir a ser mais curto do que se imagina; ora, um amor em curto prazo não pode ser amor?

 Hoje o catálogo é farto: há amor para todos os tipos e gostos. Eu sei, romantismo ultraidealizado. “Amor” pode ser uma força de expressão, poesia, literatura, mas se houve intensidades significativas para ambas às partes não merece ser chamado de amor? Se rola apenas sexo não pode ser chamar de amor?

 Amor, uma palavra que foge de nossas compreensões. Que se abrem portas, que se fecham portas. Que sobe e desse o tempo todo. Já que toquei no assunto, implico em dizer: amor ou sexo é como o elevador, precisamos apenas descobrir o andar.

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