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A ROTINA DO ESCRITOR

Por Delson Neto •
sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Olá, pessoal! Tudo bem com vocês?

 A coluna TIPS&TRICKS está de lar novo – ou melhor, em um novo refúgio! Agora no Refúgio Literário continuaremos propondo pensamentos, falando de leituras e muito mais, além de ter um espacinho especial para divulgar as novidades da Editora JBC, a nossa editora parceira que sempre tem os melhores lançamentos e coleções de mangás do Brasil!
 Tal como o São Tantas Coisas e o Peregrinos da Noite, eu também passei por diversas mudanças nos últimos tempos: casa nova, empregos novos, irmãzinha nova e por aí vai. Em meio a esse mar de caixas, móveis desmontados e vida virada de ponta cabeça, meus dias e tempo para a escrita foram consumidos pela vida em si. Chegando a esse ponto, trago aqui algo a se pensar – você, leitor, ou até mesmo você que também partilha do ofício das palavras, o quão sufocante pode ser a rotina para um escritor?

 Houve um tempo em que eu via as atividades rotineiras como inimigas através de uma perspectiva diferente da atual. Lá na minha adolescência, pensava no passar dos dias, guiado pelo despertador, como algo que trazia monotonia à minha escrita – o que não deixa de ser lá muito diferente, uma vez que novas experiências são combustíveis ótimos para quem ama criar – e que a afetava, oprimindo-a até que ela não existisse mais. Aquela desculpa juvenil básica de que “não tenho tempo” era levada ao máximo, contudo, ela sempre era um bom argumento ao arranjar um tempinho para ficar nas redes sociais ou sair com os amigos (isso se chama viver, né).

 Hoje eu e a rotina ainda não somos melhores amigos, porém, temos picuinhas um tanto quanto diferentes. Veja, se aquele aspirante a escritor de quinze anos tivesse poupado aqueles momentos de desculpas esfarrapadas para depois, bem, eu teria, pelo menos, o dobro de livros escritos. O mais estranho disso é que a questão do tempo levantada como forma de escape da obrigação da escrita – pois engana-se quem pensa que é uma atividade regida pela inspiração e desprovida de disciplina – continua um tanto quanto próxima, porém, desta vez o próprio curso da vida a impôs dentro de meus dias. 
Já diz a filósofa...

 Entre trabalhar para ter sustento, até mesmo para investir nos meus sonhos, e lidar com a criação das minhas obras e manutenção das mesmas (divulgação, feedback, parcerias), ainda organizo e limpo a casa, cuido de uma irmã, cuido de outra, namoro e procuro por lazer. Isso é de segunda a domingo, com breves pausas ali de dois dias sem dar aula ou ir à escola em que auxilio na administração. Sabe qual é o momento em que eu paro e penso ''agora posso escrever''? Depois das 23h, quando não é após a 00h e meu cérebro já está mais do que exausto.

 A rotina de um escritor não é legal. Creio que nem a de um que tenha alcançado grandes méritos. Não só devemos administrar todos os outros núcleos pessoais de nossas vidas, como passamos metade do nosso tempo com os personagens eufóricos em nossas mentes. É briga de casal, universo possuído pelas sombras, histórias que querem a todo custo uma continuação, outras que precisam de uma borracha nos rascunhos antes de sair para o papel. E no meio disso, ainda nos embrenhamos em cada confusão – é treta no Facebook, é editora picareta e busca por novos leitores. Tem que ter fôlego e muita, muita responsabilidade para conseguir lidar com tanto peso nos ombros.


 Respira, escreva, continue a nadar


 Quem vê de longe diz que tem uma solução fácil. É só desistir! Mas ah, não é tão simples. Não abrimos mão tão cedo daquilo que forjamos com tamanho esmero. Chega uma altura em que é impossível simplesmente voltar para trás, ou avança, ou fica estagnado. A gente aprende a combater a rotina, ou a unir-se a ela. Veja, sobram poucos minutos na madrugada para esculpir histórias, e ainda assim estou aqui abrindo meu coração enquanto a chuva cai lá fora, pois sei que vai ter alguém lendo esse monte de frases que buscam por um sentido completo. Essa dor de querer viver da escrita – e escrever todo dia, sem outras preocupações e regras ditadas pelo relógio – é partilhada, não me é exclusiva. Criar arte é cunhar tempo também, e nós aprendemos a fazer isso, mesmo que nossos ombros estejam exaustos e as pernas destruídas de tanto caminhar após o meio-dia.

 O ritual retorna, tomamos um bom gole de café e os dedos começam a se exercitar sobre o teclado. É hora de dar início ao jogo e lembrar: a gente vai passar de fase, só temos que persistir e sonhar. Venha rotina, seja minha amiga. Vamos de mãos dadas achar um tempinho para nós dois.



 Até a próxima sexta-feira!

Comentários via Facebook

2 comentários:

  1. Nathalia Cacilie27 de outubro de 2017 19:09

    Um depoimento corajoso, honesto e verdadeiro!
    Admiro cada vez mais você, Delson! Que a sua rotina seja uma boa amiga! <3

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  2. Que texto, meus amigos, que texto!
    Resumiu muito o que é a vida de um escritor que não só escreve, mas que trabalha fora e ainda tenta viver. Confesso que ao ler suas palavras, me vi intrínseco a elas, ainda que na minha juventude tenha escrito bem mais que hoje (rsrs).

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