Por Suellen Mendes
Feliz Natal!
Carol
25 de dezembro
- Bom dia, minha princesa! Feliz Natal! – a voz de Lara sussurrada em meu ouvido fez surgir um gostoso arrepio em minha pele.
- Bom dia, meu amor! – falei logo após depositar um delicado beijo em seus lábios. Vê-la daquela forma, tão encantadoramente linda com os cabelos ruivos despenteados de cama e os olhos cor de avelã me encarando e fazendo acender em mim a centelha de que finalmente havia encontrado a pessoa certa com quem dividir a minha vida, só fez reforçar a minha decisão de contar a verdade sobre a minha sexualidade ao meu pai e à minha madrasta. – Hoje falarei com eles. Não posso mais esconder da minha família o que sinto por você.
- Você tem certeza? Se precisar de mais tempo podemos esperar. – como sempre, sua voz era carregada de gentileza e afeto.
Lara sabia exatamente o quanto era difícil, em uma sociedade extremamente preconceituosa, assumir perante o julgamento dos outros aquilo que de fato se é. Prova disso foi o que ela passou ao contar para seus pais que preferia namorar meninas a namorar meninos. No caso dela, as coisas foram mais difíceis, pois além de assumir-se homossexual, Lara precisou confessar os abusos sofridos com o seu primeiro (e único) namorado, o filho de um querido amigo de sua família. Até hoje os pais de Lara ainda não acreditam no que ela lhes disse, preferindo ignora-la. É lógico que eles não merecem o meu respeito por essa atitude tão descabida! Mas, mesmo assim, ainda espero que os três possam se entender algum dia.
Após tomarmos o nosso café, vestimos algo adequado para passar o almoço de natal com minha família. No meu caso, um vestido levinho de algodão era a melhor pedida; já Lara optou por uma camiseta vermelha e um shortinho jeans, os cabelos cortados na altura dos ombros estavam presos em um rabo-de-cavalo, enquanto os meus desciam em cascatas pelas minhas costas. Uma bailarina clássica é uma Dj, assim éramos – ambas completamente apaixonadas pela música.
Estava penteando meus cabelos quando Lara se aproximou.
- Feche os olhos. – pediu. Porém não obedeci de imediato.
- Pensei que não iríamos trocar presentes. – quis lembra-la do nosso combinado.
- Combinamos de não gastar dinheiro em presentes, e foi exatamente o que fiz. Agora anda, feche os olhos.
Lara e sua mania de sempre dar um jeitinho de satisfazer suas vontades... Há quatro meses decidimos dividir um apartamento, e desde então estamos nos adaptando à rotina de sermos independentes, pagar contas, cuidar de uma casa... esse tipo de coisa. No primeiro mês foi complicado, o orçamento apertou e precisei recorrer ao meu pai; no segundo, parecia termos aprendido a lição e finalmente o dinheiro deu, mas não rendeu; então no terceiro mês começamos a cortar os excessos e prometemos não estourar o orçamento com presentes de natal no mês seguinte. A Lara não pareceu gostar muito da ideia de não me dar um presente, mas no fim acabou concordando; é por isso que o fato de estar agora de olhos fechados em frente ao espelho do banheiro enquanto ela desliza a fria corrente de metal em meu pescoço era estranha.
- Pode abrir!
Arregalei os olhos ao ver o cordão de Lara e o pingente que era de minha mãe sobre a minha pele.
- Você consertou! – disse ao ver que a peça, antes sem a argola, estava agora perfeita e polida como se fosse nova. As lágrimas me vieram aos olhos, não havia como descrever minha emoção. Perdi a minha mãe quando tinha cinco anos e desde a sua morte carregava aquela medalha comigo. Há umas semanas, enquanto voltava do estúdio de dança sofri um assalto e o ladrãozinho arrancou o colar do meu pescoço com muita força, machucando minha pele; após sua fuga, abaixei-me na rua em busca do pingente; fiquei tão aliviada por encontrá-lo que nem me preocupei com o fato de que estava quebrado. No entanto, Lara percebeu minha tristeza por não poder usar a joia de minha mãe.
- O Miguel me ajudou. – disse se referindo ao primo que trabalhava em uma loja de penhores. – Ele conhece um ourives que restaurou o pingente por um valor quase insignificante.
- Você não tem jeito, né?! – falei com os olhos embaçados pelas lágrimas, depois a beijei. – É por isso que te amo!
- Eu também te amo, Carol!
Chegamos à casa do meu pai e tudo estava uma loucura. Como sempre!!! Ester terminava de colocar o peru na mesa, enquanto Manuela ajudava com as tortas e Cammy servia as batatas recheadas.
- Finalmente vocês chegaram! – Rafael falou me abraçando. – Só estávamos esperando vocês para dar a grande notícia!
Oh! Ele certamente já sabia sobre o meu sobrinho (ou sobrinha).
Olhei ao redor, porém não vi Augusto em lugar algum. – E o Guto, cadê?
Cammy ficou um pouco sem jeito antes de falar. – Ele já vem, está terminando de se vestir.
- E como você sabe? – imediatamente recebi um cutucão de Lara. – Seja discreta! – ela sussurrou em para mim.
- Venham, meninas! Sentem-se! – chamou Ester. Caminhei até ela e lhe dei um beijo no rosto, em seguida fui até meu pai, que se mantinha sentado à cabeceira da mesa como fazia todos os anos. Dei-lhe um grande abraço de urso e enchi de beijos suas bochechas rosadas. Era bom ver que ele devagarinho vinha se recuperando. Recentemente todos levamos o maior susto com ele. Papai havia sofrido um infarto, porém foi atendido a tempo e agora podemos celebrar em família. Todos juntos! É por isso que Cammy finalmente aceitou passar o natal conosco, mesmo depois de tantos anos fugindo do que sente por Augusto, nosso meio irmão. Falando nele...
- Oi, maninha! – disse beijando o meu rosto.
- Tudo bom, Lara? – perguntou ao abraçá-la.
- Tudo.
- Bem, agora sim não está faltando mais ninguém. – Rafael comentou ao ver todos sentados à mesa.
Percebi que Guto sentou-se ao lado de Cammy e ignorando a forma como todos olhavam para eles, aproximou-se dela e beijou-lhe a bochecha. – Teve uma boa noite? – o sorriso nos lábios dele e a forma como como ambos se olhavam...
- Mas que merda, vocês transaram!?- imediatamente tapei minha boca. Agora a atenção estava toda em mim. – Quer dizer... Bem...
- Na verdade... Nós fizemos amor! – foi a resposta de Cammy.
- Caralh... – a mão de Manuela voou para os lábios de Rafael, impedindo-o de continuar com o que ia dizer.
- Bem... – começou o meu pai – já estava na hora. Quem sabe agora possamos ter toda a família reunida nos próximos natais.
Guto e Cammy se olharam surpresos. Então começaram a rir. E como se quisessem oficializar ao mundo o que sentiam, meu irmão postiço agarrou o rosto de minha gêmea beijando-a de uma forma tenra e apaixonada.
- Então, Cammy... Acho que isso quer dizer que não preciso mais te beijar. – comentou Ivan.
- Definitivamente não, boy! – respondeu Augusto.
Um suspiro e então... – Que pena! Não por não precisar beijá-la, mas porque ainda tinha esperança de beijar você!
Uma uva voou no peito de Ivan. – Só nos seus sonhos, boy! – ele imediatamente pegou a fruta e levou-a a boca, mastigando-a enquanto piscava para Cammy, que em silêncio lhe agradecia e gesticulava um “eu te amo!” para o amigo.
- Sobre os próximos natais... – Rafael recomeçou o que estava ansioso para dizer – a partir do ano que vem teremos mais um membro na família.
Ester levou as mãos a boca. – Oh, Meu Deus! Vou ser vovó?!
Com os olhos submersos em lágrimas Manu sorriu. – Vai sim!
Todos aplaudiram e papai, Ester, Rafa e Manuela se abraçaram demoradamente. Depois foi a vez de cada um de nós parabenizar o casal afortunado.
- Este sem dúvidas é o nosso melhor presente. – pisquei para Manu enquanto pousava minha mão em seu ventre.
- Vou pegar a sobremesa. – Cammy se levantou.
- Eu ajudo! – se ofereceu Guto.
Nossos pais sorriram ao vê-los se afastar. Depois que voltaram - a Cammy agora sem nenhum batom na boca - começamos a saborear a torta alemã feita por Ester. Minha madrasta é maravilhosa na cozinha! A Diva das Panelas, como chamamos. A cada colherada no doce, eu tomava um fôlego de coragem e quando finalmente me senti pronta, falei:
- Eu também preciso contar uma coisa para vocês!
Agarrei a mão de Lara e ela sorriu ao dar um leve aperto em minha mão como prova de apoio.
- Eu e a Lara... Bem, nós... – minha garganta ficou seca.
- Vocês são um casal. – completou o meu pai.
Não era uma pergunta e sim uma afirmação.
- Bem, sim! - Desde quando ele ficou tão esperto? – O senhor já sabia?
- Ora, maninha, não se surpreenda! – falou Rafael – Você não percebeu que nada escapa do olhar atento desse velho bruxo?
Era verdade.
- E... Tudo bem para o senhor? – perguntei.
Meu pai sorriu. – Você é feliz? – perguntou.
- Sou.
- Vocês se amam? – voltou a perguntar agora olhando para nós duas.
Nossos olhos se procuraram e juntas respondemos – Muito!
Os sorrisos de Otávio e Ester se alargaram – Então nós também estamos felizes! O que importa é o que vocês sentem. Não importa quem você ama, minha filha. – as mãos de papai vieram ao meu rosto. – O que importa é que este alguém lhe ame de volta. E eu sei que esta menina – disse levando uma mão ao rosto de Lara – te ama muito.
Eu o abracei. – Eu te amo, papai!
- Eu também te amo!
Ao fundo ouvi a voz da Cammy: - Eu definitivamente amo o Natal!
Oi, meus lindos!
Este foi o último conto de Christmas Dreams, espero que vocês tenham se deliciado ao ler cada uma dessas estórias, assim como eu me deliciei ao escrevê-las. Toda vez que encerro um trabalho, sinto uma pontada de saudades desses personagens que me acompanharam durante tanto tempo; acreditem o mesmo está acontecendo agora com Cammy, Guto, Manuela, Rafael, Carol, Lara, Otávio e Ester. Mas quem sabe eles não voltem a nos visitar no próximo natal? Afinal, sempre há mais coisas a serem contadas não é mesmo?
Desejo a todos um Feliz Natal! 🎁☃E que o Bom-velhinho preencha os lares de vocês com bênçãos sem medidas!
Até a próxima!
Beijinhos!!!😘😘😘
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirOwmm que conto mais gostoso para se ler no Natal. Amei. Parabéns a autora pela historia linda. E para todos vocês um feliz natal, repleto de muita luz, bençãos, paz e felicidades. Beijos
Muito obrigada, Faby! Você é uma querida, e leitora fiel!
ExcluirAgradeço por acompanhar Entrelinhas, sempre vibro com os seus comentários!
Desejo um ótimo natal a você e toda a sua família!
Beijão!
Oie!!
ResponderExcluirQ lindo!!! Adorei!! Principalmente a forma como vc escreve. Muito bom.
Q família linda!! Seria tão bom se essa "naturalidade" fosse encontrada em todas as famílias. Muito amor!!
Parabéns pelo texto.
Bjo
Oi, lindinha! Tudo bem?
ExcluirAgradeço por deixar sua opinião sobre o texto. É sempre muito gostoso ler que a forma como escrevo agrada a quem leu algum dos meus textos. Você alegrou minha noite!
Também gostaria que essa "naturalidade" fosse encontrada em todas as famílias, somente assim - com tolerância, respeito e amor- podemos encontrar a verdadeira felicidade!
Um ótimo natal para você e sua família!
Beijinhos!