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Autora X Autora: Diana Scarpine X Mai Passos - Clichês Literários

Por Salvattore Mairton •
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
Olá, aqui estou eu mais uma vez com esta coluna que dá o que falar. Agora, quem acompanhou a coluna da semana passada, deve estar se perguntando por que estamos vindo com o mesmo tema: Clichês Literários. Bem, na matéria passada, a discussão foi feita por dois autores, foi quando através de comentários e e-mails os nossos leitores, pediram o mesmo tema respondido por duas autoras. E vocês sabem quem manda aqui são os leitores.  

Veja Aqui: Delson Neto X Leonardo Torres - Clichês Literários
  
As participantes São:  
  
Diana Scarpine, autora de Uma Chance Para Recomeçar e Entrelaces.  

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Mai Passos, autora de Sofia, e fundadora da Editora Independente. 

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Autora x Autora  

  Clichês Literários  

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1 - O que você acha dessa enxurrada de livros trazendo os mesmos clichês, romances água com açúcar, mocinhos fortes, mocinhas submissas, vampiros sensuais e cenas eróticas na literatura nacional e estrangeira?  
  
Mai Passos - Infelizmente no mundo capitalista existe a lei da “Oferta e da Procura” quanto mais se procura, mais o mercado vai ofertar.   
Particularmente, estou enjoada desses tipos de romance, após o estouro de Cinquenta Tons de Cinza, os livros são praticamente a mesma coisa: o  Ceo que se acha o “macho alfa” e a mocinha virgem cheia de medos, e que lambe o chão que o cara pisa. Vamos se situar né. Além de todos esses estilos de livros terem praticamente o mesmo conteúdo, uns 90% romantizam relacionamentos abusivos, expõe a mulher a uma situação humilhante e a diminuem perante o homem. Isso não é legal.   
  
Os romances água com açúcar passaram a ser essas relações eróticas que vemos hoje distribuídas nas livrarias de todo o país, o velho e bom clichê “inocente” deixou de existir. Sinceramente, espero que as editoras passem a apostar em novos temas. Espero que explorem livros mais reais, com dramas cotidianos, e com altas doses de carga emocional. É disso que nós precisamos.  
  
Diana Scarpine - Bem, esta é uma pergunta bastante complexa e interessante que dá margem a muitas respostas diferentes, mas vou responder do ponto do meu ponto de vista, que é o de uma escritora-leitora que tem preferência por romances e dramas. Eu penso que antes de dar a minha resposta propriamente dita, preciso colocar aqui o que eu vou considerar como clichê, uma vez que esta palavra pode ter vários significados. Vou considerar clichê aqui como “lugar- comum”, algo que todo mundo faz, mas não como algo sem originalidade. Se você considerar que os gêneros literários são muito antigos (existem há muito tempo) e que todos eles, em alguma medida, exploram sentimentos (por exemplo: os romances, de uma maneira geral, tratam do amor, o drama trata de perdas, o suspense e o terror exploram o medo, etc), você sempre terá um clichê, porque você não vai conseguir fugir muito disso. Mas acho que o que a maioria das pessoas considera hoje como “clichês” são na verdade modismos que acabam emplacando (vendem); porque, de alguma forma, mexem com o inconsciente coletivo. Por exemplo: em minha opinião, os romances água com açúcar fazem sucesso, porque a maioria das pessoas deseja ser feliz no amor. É bom ter esse diversidade de gêneros? Sim, é bom, porque cada pessoa tem um gosto e temos que respeitar isso, sejamos nós escritores, leitores, críticos literários, etc; pois isso faz parte da diversidade humana e o que é bom para mim pode não ser bom para você e vice-versa. Como leitora, quando vou escolher um livro para comprar, sempre me pergunto o que eu busco nele e, como escritora, qual a mensagem que eu quero passar para o leitor, o que eu gostaria que ele reflitisse. Com isso, seleciono o que eu leio e o que eu escrevo. Claro que, às vezes, fujo da minha zona de conforto e leio outro gênero que não romance e drama. Às vezes, a experiência é boa; às vezes, não. O que acho que não pode acontecer é só porque você não gostou, sair falando mal, até porque ninguém é o dono da verdade. Posso não gostar de algo, mas outras pessoas podem gostar.   
  
2 - Em sua visão, porque livros com teor erótico com cenas quentes fazem tanto sucesso?  
  
Mai Passos - Acredito que muitas mulheres, pois são as que mais adquirem esse tipo de livro, gostariam de ter em casa esse tipo de relação sexual, onde o prazer é igualmente para os dois lados. Onde ela possa sentir e dar prazer, e chegar ao orgasmo perfeito que esses livros descrevem. Sexo, por mais se seja natural entre as pessoas, é um tabu para muitas pessoas discutirem com o parceiro, acabam não revelando seus desejos na hora do ato, e tem um sexo frustrado, muitos acabam despejando nos livros, ou sonhando com aquele tipo de relacionamento sexual. As pessoas ainda sentem medo de serem livres entre quatro paredes, pois a forma como fazemos o sexo, ou achamos que devemos fazer é uma questão social e cultural, sobre o que é ou não aceito pela sociedade.  

Diana Scarpine - Eu acho que eles fazem sucesso; porque, como já disse, eles mexem com o inconsciente coletivo das pessoas, o que significa que eles trazem à tona a ideia de liberação sexual da mulher, que teve sua sexualidade reprimida durante muito tempo. Então, sob essa óptica, os romances eróticos têm um ponto positivo; mas se você pensar que esse teor erótico está, muitas vezes, atrelado à submissão da mulher (ou seja, ela tem que se submeter ao que o homem quer, inclusive a tapas, chicote, etc., como nos Cinquenta Tons de Cinza) e a corpos de acordo com o padrão estabelecido pela mídia (homens “sarados” e mulheres com corpo de modelo) e que estes aspectos geralmente são reforçados nos livros e valorizados, isso é, na minha opinião, negativo e até preocupante. Uma mulher não precisa se submeter a um homem, nem ter corpo de modelo para ser bonita e ter uma vida sexual saudável e feliz e o homem não precisa ser “saradão” para ser atraente e ter uma vida sexual de qualidade. Claro que eu não estou generalizando e estou apenas dando a minha opinião e a sua pode ser diferente. Se você gosta, leia, divirta-se; mas é importante refletir sobre o que se lê e refletir não é só para criticar, é para elogiar também quando se gosta da leitura. Não curto muito romances eróticos. Já li, sim e leria de novo se sentisse vontade, mas sempre refletindo sobre o que eu leio. Meus romances têm cenas íntimas? Tem; mas são poucas e não muito explícitas e, quando as escrevo, escrevo com um propósito específico que, óbvio, não é o objetivo do livro (meus livros não são eróticos) e, mesmo assim, são as que me dão mais trabalho escrever, porque não quero passar a ideia errada.  
   
3 - Você acha que alguns autores veem um sucesso de uma franquia, como Cinquenta Tons de Cinza, e acham que só estilo faz sucesso e tendem a "criar" histórias com o mesmo teor?  
  
Mai Passos - Acredito que muitos que escrevem esse tipo de romance, acabam despejando nas palavras coisas que queriam que acontecessem com eles próprios, ou acabam tendo disso em seus relacionamentos, as estórias sempre acabam espelhando coisas que já nos aconteceram, ou que desejamos secretamente que aconteça, mas não descarto a hipótese de muitos autores escreverem apenas porque faz sucesso e é o que o público gosta.  
  
Diana Scarpine - Sim, isso pode acontecer, ou seja, o escritor(a) pode pensar que essa é a melhor alternativa para ter seus livros lidos e as editoras apostam nesses modismos, porque eles vendem e elas também precisam se manter e pagar as contas; mas acho que as editoras brasileiras precisam dar mais oportunidades para os autores nacionais. Há muita coisa boa que está sendo publicada e que não recebe o destaque necessário, não chega ao grande público por falta de divulgação. Reconheço também a necessidade de muitos autores nacionais em se manter e, por isso, a necessidade de “emplacar”, vender cada vez mais, para tentar viver de literatura (eu nunca consegui, infelizmente. Parabéns aos que conseguem!), o que justifica, muitas vezes, a opção pelos modismos, mas eu particularmente não gosto de seguir modismos; pois eu acho que o escritor tem uma responsabilidade e também oportunidade muito grande em mãos, que não é apenas entreter, é também fazer uma crítica social. Acho que temos que trazer à baila temas importantes, discuti-los, e fazer com que o leitor reflita à medida que se diverte e tenha também a oportunidade de ampliar seus conhecimentos. Para isso, preciso escrever um livro técnico-científico? Não, mas preciso pesquisar, estudar. É possível fazer crítica social, discutir temas importantes em qualquer gênero literário? Creio que sim.  
  
   
4 - O mais do mesmo, no meio literário tem se tornado bem comum, o que você diria aos novos autores para que eles se diferenciem de enredo que já estão rodando nas livrarias, estantes e blogs?  
  
Mai Passos - Eu digo para eles escreverem o que sentirem vontade, se você quiser escrever sobre o CEO “macho alfa” e a mocinha “estabanada” escreva, mas tenha cuidado na hora de construir personagens, enredo e a estória. Tenha em mente que romantizar relacionamentos abusivos não é legal, e que precisamos de mocinhas fortes, que dizem “não” e o parceiro saiba respeitar. Chega de homem mandão, que acha que pode fazer o que quer e a mulher ainda vai acatar. Somos livres, temos direito a escolha e as pessoas precisam respeitar isso. Lembre-se que você é responsável pelo que escreve e pelo que seus leitores entendem também.   
  
Diana Scarpine - Humm, se você considerar que eu escrevo desde os trezes anos de idade, que tenho vários livros não publicados, eu tenho bastante tempo de carreira; mas, se você considerar que Uma Chance para Recomeçar, é o meu segundo romance publicado (o primeiro é Entrelace: Caminhos que se Cruzam ao Acaso), eu posso ser considerada uma nova autora.  Mas se pudesse falar alguma coisa para os que estão começando, diria: 1 - Leia muito, nunca pare de ler. O escritor precisa ser um bom leitor e um leitor consciente do que lê; 2 – Não se preocupe em inovar e fugir dos clichês (não adianta. Os “clichês” sempre vão te perseguir, ou seja, alguém vai achar que o que você escreve é clichê. Não dá para agradar a todo mundo); 3 – Escreva sobre algo que você gosta de ler e conhece (não adianta você querer escrever um terror “cavernoso” se você só lê romances). Assim, você evita furos; 4 – Seja um bom pesquisador e um bom observador; 5 – Reflita sobre o objetivo do livro e sobre qual mensagem você quer passar aos leitores. 

Comentários via Facebook

13 comentários:

  1. Karine Fernandes 16 de dezembro de 2016 00:20

    Eu ando gostando muito de ver essas publicações das quais as pessoas falam o que acham de um ou vários determinados assuntos, gostei bastante de saber desse ponto de vista das autoras. Parabéns.

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  2. "Estou enjoada desses tipos de romance, após o estouro de Cinquenta Tons de Cinza, os livros são praticamente a mesma coisa" Olha, gostei muito do ponto de vista da autora, mas essa resposta dela me descreveu, pois só esse ano li uns 5 livros que eram praticamente a copia de 50 tons!Isso cansa muito!

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  3. Olá! Gosto muito dessa coluna e principalmente das respostas das pessoas entrevistadas! É muito bom dar espaço aos nossos autores que são tão pouco valorizados! Adorei as respostas de ambas!
    Parabéns novamente por essa iniciativa tão bacana! bjs
    https://literakaos.wordpress.com/

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  4. Olá, tudo bem?
    Minha opinião é bem semelhante a das autoras, eu particularmente estou cansada desses mesmos lançamentos onde basicamente se troca apenas o nome do autor. Quando um tipo de gênero ganha focu, todos parecem querer aproveitar dessa fama e escrever no mesmo estilo. Enquanto eu evito leituras assim, tem pessoas que amam e nisso é que está o sucesso da vida, cada um é feliz a sua maneira lendo os livros que realmente gostam.
    Amei o post, parabéns. As autoras são umas fofas.

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  5. Olá
    Gostei muito da entrevista, e gostei demais das peguntas, as respostas foram mito boas, realmente isso de clichê sempre vai ter, e sempre vai ter os clichês que nos agrada mais ou menos, eu sou da turma do terror e sei que tem vários também, já alguns dos romances eu acabo não tolerando o que me fez abandoná-lo uns 15 anos atras, entre eles é o machismo, a mocinha submissa que se apaixona pelo canalha que lhe agarra pelo braço, e parece não ter mudado nada de lá para cá.
    Mas, temos muitos lançamentos, e parece que estamos mais expostos a esses livros, porque as editoras acham que eles funcionam melhores para os blogueiros, mas se você pegar um jornal por exemplo vai encontrar outros lançamentos.

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  6. Olá!!
    Eu gosto muito dessa coluna, quantas vezes eu já disse isso?!
    Dessa vez não gostei das respostas dos dois escritores, gostei mais das respostas de Mai Passos, achei que ela foi sucinta e clara, gosto de respostas assim, ótimos pontos de vista dela...
    bjs
    :)

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  7. Olá, gostei muito da abordagem das autoras, mesmo discordando em algumas opiniões. No entanto, isso é o interessante, perceber os argumentos, as ponderações, as concordâncias e discordâncias e elaborar nossos pensamentos. Parabéns às Mai e à Diana e ao blog por abrir este espaço!

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  8. Oiee
    Então, não sei muito bem o que comentar porque não me interesso muito por esse assunto.
    Acredito que gosto é algo muito variável e que cada pessoa deve cuidar do seu, assim como da sua vida. Por isso não me interesso muito em especular sobre o porque das pessoas fazerem determinadas coisas e tampouco em saber o que os outros especulam sobre isso.
    Cada um ler o que lhe agrada e lhe faz sentir bem.

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  9. Gabrielly Marques19 de dezembro de 2016 20:54

    Oie, tudo bem? Eu adorei o post e as respostas de ambas as autoras. Eu gosto de clichês, quando bem escritos, com bons personagens, boa ambientação. Acho que podem continuar sim escrevendo sobre os mesmos assuntos, mas mudar a forma, incluir novos temas... Mas gosto é gosto, e as pessoas leem o que gostam, seja clichê ou não. Como a Kris falou no comentário acima, cada um ler o que lhe agrada e lhe faz sentir bem.

    Beijos!

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  10. Mas minha gente! Adorei a coluna! Muito legal pôr as autoras nacionais pra discutirem sobre os temas relacionados com suas obras, ou não. Enfim, muito bom!

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  11. Oi
    muito interessante as perguntas e respostas, já me deu uma inspiração para uma coluna lá no Viciados. Vou nem falar muito por aqui para não dar spoiler da coluna rsrs

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  12. Olá,
    Ainda não conhecia a coluna, mas gostei bastante dessa abertura de espaço para os autores falarem a respeito de alguns temas intrigantes.
    Concordo que após 50 tons, teve um boom de livros que seguem o mesmo estilo e que fazem sucesso. Não vou dizer que não gosto, mas ler vários acaba cansando por não ter muitas inovações. É como uma das autoras disse, sempre tem o Ceo macho alfa e a garota ingênua que lambe o chão que ele pisa. Precisamos de personagens fortes!!!! Nada de relacionamentos abusivos!!

    http://leitoradescontrolada.blogspot.com.br/

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  13. Oi!!
    Que legal a ideia desse post, cliches litários estão sempre por aí e realmente ultimamente temos visto muitas tramas bem parecidas.
    O 'bum' dos eróticos e algo fenomenal, eu gosto de romances eróticos, mas o maior problema é que parece que estamos lendo sempre a mesma coisa, o cara rico, lindo e tal e a mulher que faz de tudo por ele, peraí né gente já deu, tem tantos outros temas que podem ser abordados e explorados nos romances eróticos.
    Eu tenho um sério problema com os romances de época, pois é quase sempre a mesma coisa, a questão da mulheres que procuram o casamento, as proibições e sempre tem aquela personagem que está a frente do seu tempo, afff não gosto disso não.
    Beijão!

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