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Autor X Autor: Diéssica Nunes Sales e Sérgio Carmach Debatem Sobre A Nova Literatura Nacional

Por Salvattore Mairton •
domingo, 5 de janeiro de 2014
Olá amigos leitores, como está sendo o ano de 2014 para vocês, espero que esteja sendo bem animado. Falando em animação, tem um coluna no blog que amo de paixão: Autor X Autor. É muito gratificante ver como os autores realmente trazem suas opiniões sem, como se diria no popular, “babar-ovo” de ninguém. E hoje na coluna veremos a opinião dos autores Sergio Carmach e Diéssica Nunes Sales, sobre o tema: A Nova Literatura Nacional. Quando comecei a ler a opinião dos dois fiquei extasiado como eles pensam diferente e como suas opiniões divergem em vários pontos.

Como vocês sabem os autores que participam do Autor x Autor não sabem que será o autor ou autora que dividirá opiniões com ele, então a coluna fica livre para que cada se expresse da melhor maneira que achar. Mas vamos deixar de papo furado e partir para o tema de hoje, o que será que Sérgio e Diéssica acham da nova literatura nacional?

SERGIO CARMACH X DIÉSSICA NUNES SALES
A NOVA LITERATURA NACIONAL

1 - O que você acha sobre a nova literatura nacional?
SÉRGIO - A nova literatura nacional significa uma abertura, antes inexistente, para o escritor de talento sem mídia. Além disso, reflete uma inédita vontade do brasileiro de ler e escrever em quantidade. Mas essa abertura generalizada também tem um lado negativo. Hoje em dia, grande parte da chamada “nova literatura nacional” é, na verdade, o povo escrevendo para o povo. Então, é natural que tenhamos uma chuva de livros com português ruim, tramas batidas e histórias com forte apelo popular (em um sentido negativo da expressão). É como se as pessoas “comuns” tivessem promovido uma rebelião para tentar tomar à força parte do espaço dos escritores profissionais, passando a escrever – na forma e no conteúdo – aquilo que gostariam de ler. Se alguém fizer uma pesquisa sobre os livros nacionais independentes mais cotados, verá uma grande quantidade de lançamentos com enredos muito parecidos e típicos de uma “literatura” não muito respeitada (mesmo quando publicada por grandes editoras) pelos leitores acostumados a uma escrita menos ingênua. São muitas tramas falando de esposas frustradas em busca de um novo amor, de anjos caídos que se apaixonam por mortais, de vampiros inspirados em Crepúsculo, de espadas cujo poder é capaz de destruir o mundo se caírem em mãos erradas, de adolescentes em suas buscas íntimas e românticas... (sem falar nos incontáveis livros de autoajuda). Mas, conforme eu já disse, esse é só um lado da moeda. Se soubermos peneirar o trigo em meio ao joio, veremos que há lançamentos excelentes no mercado independente. Mas a valorização do que é realmente bom depende do leitor, que precisa entender o seguinte: “livro” não é necessariamente sinônimo de “literatura”. De qualquer modo, a nova literatura nacional representa uma nova era e pode ser a oportunidade que faltava para novos leitores e novos autores amadurecerem.

DIÉSSICA - Nossa nova literatura – como toda expressão artística – mostra quem somos agora. E o que eu mais gosto disso é ver que estamos criando nossa própria identidade, nossa própria literatura. Não estamos importando formas norte-americanas ou europeias de escrever, pelo menos, não a maioria dos que já li. Talvez até tenhamos uma influência dado que até pouco tempo era difícil ter livros de autores nacionais contemporâneos publicados, mas mesmo com essa influência – que acredito que todos nós temos, nem que seja um pouco – nós estamos criando nossa própria identidade literária. E isso é muito, muito importante.
Sem falar, que aos trancos e barrancos, estamos conseguindo alcançar cada vez mais as pessoas. Nossa literatura tem crescido, e muito!

2 - As editoras valorizam os autores que estão entrando no mercado agora?
SÉRGIO - As grandes editoras não valorizam os escritores iniciantes, porque eles estão longe de significar lucro certo. As pequenas valorizam, mas na medida em que os autores (e não os leitores) são a fonte principal de lucro delas. Ou seja, as editoras independentes valorizam o autor prioritariamente na qualidade de consumidor, não na qualidade de escritor. É claro que não podemos generalizar, mas em geral me parece acontecer dessa maneira.


DIÉSSICA - Uma pergunta um tanto complicada e difícil de responder de forma breve, pois não existe apenas um lado e sim vários que devem ser levados em conta.  Serei direta para a resposta não ficar enorme – significando que não colocarei todos os argumentos que gostaria. Falarei brevemente do incentivo a publicação e dos royalties.

Falando sobre o incentivo à publicação, eu diria que somos valorizados, pois atualmente temos várias editoras, que apesar de cobrarem para publicar, têm jogado vários autores por mês no mercado. O lado negativo disso é que elas têm perdido um pouco de critério para publicar, ou seja, como está sendo paga para isso, não avalia se a estória é realmente boa ou não. E isso é prejudicial até mesmo para o autor. Para mim, as editoras são como a banca avaliadora de um trabalho acadêmico. Elas têm que avaliar o trabalho e dar a nota! Não é destruir o autor, mas é dizer se ele está ou não preparado para a publicação.

Em termos de royalties, eu digo que não. Mas não são as editoras brasileiras que não valorizam seus autores. É o mercado literário como um todo. Eu ganho 10% de royalties sobre cada livro vendido. Rick Riordan ganha o mesmo. (Lembrando que por mais que ele venda milhões de livros e esses 10% se transformam em muito dinheiro, estamos falando da porcentagem sobre cada livro).

É óbvio que as editoras têm outros gastos além dos direitos autorais, tais como revisão, capa, diagramação, distribuição, gráfica, etc. Mas, sinceramente, será que o autor merece apenas 10% do lucro? Eu penso que não. E acreditem, no final de todo os gastos, quem fica com o maior lucro é a editora.

Para chegar a uma conclusão eu diria que, de certa forma, somos valorizados, mas não como deveríamos ser.

3 - Você acha que ainda há certo receio por parte dos leitores em relação à nova literatura nacional?


SÉRGIO - Os leitores ligados à blogosfera e às redes sociais (em geral jovens) estão menos fechados ao mercado independente, mas o leitor comum parece ainda não dar a menor bola para a nova literatura nacional. Pessoalmente, não conheço ninguém que compre livros desse segmento do mercado para dar de presente ou ter em sua estante. A Livraria da Travessa chegou a dedicar uma loja inteira no Rio apenas às pequenas e médias editoras (na Travessa do Ouvidor), mas não durou.

DIÉSSICA - Tenho certeza disso. Não vou dizer que atualmente a leitura de autores nacionais contemporâneos está baixa como era há alguns anos. Isso mudou. A leitura de livros nacionais vem crescendo muito, mas comparando a livros estrangeiros, está baixa e ainda desvalorizada.

Quantas vezes não deixamos de ver um filme nacional para assistir um norte-americano? Muitas! Não é mesmo? Com os livros não é diferente.

O que eu mais escuto, seja no meu prédio, na minha faculdade, no teatro, no bar, na balada, na internet, é que o Brasil não está com nada. Desculpe-me, mas você já procurou saber de como anda os Estados Unidos? Ou, até mesmo, a Europa?

Sim, saí da literatura. Sabem por quê? Porque ela é mais uma das desvalorizações. Ela não seria desvalorizada se nós valorizássemos nossa cultura.
E é obvio que isso reflete na arte. Aliás, a arte é o retrato da sociedade, é o nosso retrato. E a forma como ela ainda é desvalorizada retrata como desvalorizamos o nosso país, a nossa cultura, e a nós mesmos.

4 - Todos os autores que estão entrando agora no mercado literário realmente têm futuro?

SÉRGIO - Minha opinião a respeito está subentendida na resposta à primeira questão. É natural vermos mais escrevinhadores que escritores no cenário independente. Seria estranho se, em um universo no qual entra quem quer, todos fossem competentes. Indivíduos talentosos são minoria, em qualquer área.

DIÉSSICA - Sim, tenho certeza que os autores iniciantes têm futuro. Só não podem desistir. Você não vai virar best-seller em um ou dois anos de publicação. Basta conhecer a história da Paula Pimenta, Tammy Luciano, Carolina Munhoz e outros tantos autores nacionais que já estão em destaque na mídia e nas livrarias. Todos eles receberam não, todos eles se matavam para vender um livro que sequer, todos eles custaram para receber algum dinheiro proveniente da venda de seus livros. Isso faz parte. Assim como um livro tem um processo de construção (e levar portada na cara de editoras faz parte desse processo), o sucesso também tem.

***

E ai o que acharam desse nosso tema do Autor x Autor? Deem sua opinião, comentem, compartilhem  e até a próxima.

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2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Nairton,
    Percebi agora como amo essa coluna! Acompanhei a temática abordada por Eleonor e Leonardo Barros e adorei!!

    O post de hoje me mostrou dois autores que eu não conhecia! Gostei demais das coisas que eles mencionaram sobre a nossa literatura mostrar quem somos agora e tudo mais!

    Parabéns pela coluna e por seu brilhante trabalho! (:

    Abraço
    Adriano - http://geracaoleiturapontocom.blogspot.com.br/

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