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Dica de Livro: Morangos Mofados de Caio Fernando Abreu

Por Salvattore Mairton •
segunda-feira, 12 de março de 2012


Morangos Mofados, autoria de Caio Fernando Abreu, foi publicado em 1982, período caracterizado pela abertura política e pelo início de um processo de democratização em conseqüência do fim da Ditadura Militar no Brasil. Trata-se de um livro de contos onde, em quase todos eles, o escritor aborda seus temas preferidos: o estranhamento, a solidão, a dor e o sentimento de marginalização.

Mergulhada no espaço contaminado da pós-modernidade, sua narrativa representa seres degradados pelas drogas, paranóias, AIDS, esquizofrenia, desencanto, muita procura e muito desamparo. São vitimas de uma sociedade massificada, dominada pelos símbolos de sua indústria cultural. 

A cidade é o cenário preferido dos seus personagens, que embora tratem de narrativas onde a temática social predomina, esta é filtrada pela interioridade das figuras humanas, que reagem de várias maneiras aos fatos. Por isso a literatura de tema urbano tende a aprofundar a análise da vida interior das personagens. Assim, sua narrativa pode ser classificada de psicológica, porque enfatiza o prisma intimista com que os eventos externos são percebidos; e estes deixam de ter sentidos predominantemente social, para se confundirem com problemas do inconsciente, produtos de traumas pessoais e de relações insatisfatórias na infância ou em determinado momento da vida.

A literatura urbana de Caio incorpora ao espaço urbano novos significados, ampliando o repertório e o alcance da literatura, representando seres diversificados ou muitas vezes melancólicos.

Morangos Mofados é estruturado em três partes: "O Mofo", constituída de nove contos; "Morangos", de oito; e um último conto que dá título ao livro: “Morangos Mofados”. Na primeira parte está representada ainda a ditadura militar, o processo de desumanização e asfixiamento da liberdade que foi tema do livro anterior, tudo isso revestido de uma ótica esvaziada e nauseabunda. Esta parte contém narrativas mais sombrias e de caráter crítico elevado. Na segunda parte, "Morangos", e no último conto, as sementes que frutificam no asfalto, o fiapo de esperança que diferencia Morangos Mofados dos livros anteriores e posteriores. A obra consegue traduzir a atmosfera tensa, de incerteza e agonia vivida na época – entre o fim da ditadura e o início da reabertura política. Este livro de contos pode ser lido como um romance não-linear. 

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