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[RESENHA] À PRIMEIRA VISTA - DAVID LEVITHAN E NINA LACOUR

Por Francine S. C. Camargo •
terça-feira, 1 de setembro de 2020

 


" – Tem certeza? - pergunto.

Ela me olha nos olhos e diz:

– Nunca.”


Quero falar inicialmente sobre um autor que me faz delirar, em tudo que escreve. Não sei bem explicar porque, mas apesar de sua escrita ser meio destinada ao público mais juvenil, essa mocinha aqui de 40 anos se encanta por cada palavra do escritor norte-americano David Levithan, pois esse cara sabe cravar estacas em corações iludidos, ao mesmo tempo que acaricia com jasmins nossa pele ardendo em dor. Também acalma, também motiva e também faz erguer sutilmente, depois de nos derrubar ao chão com suas verdades escancaradas.


O autor tem no currículo as aclamadas obras Will e Will (livro-queridinho, escrito junto com o também brilhante e amado John Green), Garoto encontra garoto, Dois garotos se beijando, a trilogia de Todo dia, entre outros,  e esse que acabei de ler: À primeira vista, escrito em parceria com Nina Lacour.


O resumo da capa reproduzo aqui:

 

“Esqueça amor à primeira vista. Esta é uma história de amizade à primeira vista...ou quase. Afinal, quem nos conhece de verdade? O melhor amigo? A cara-metade? Ou um estranho na noite?”

 

Bem diretamente descreverei o enredo, já que me interessa muito mais falar do modo como as páginas me tocaram.


A história se passa em São Francisco, no cenário da semana do Orgulho Gay. Mark é apaixonado pelo melhor amigo Ryan, com quem tem relações íntimas e instáveis, já que desprovidas de compromisso, uma vez que o amigo não se sente a vontade em assumir-se em sua plenitude e não se sabe, ao certo, o quanto esse sentimento pode ser correspondido. Kate, por sua vez, é uma artista jovem (pintora) e promissora, apaixonada pela idéia de uma garota à distância (Violet, prima de sua melhor amiga, que chegará à cidade para morar) e enfrenta seus dilemas sobre o futuro, seus medos e a falta de crença em seu próprio talento, acabando por literalmente fugir sempre que se apavora.


Kate e Mark são meros conhecidos na escola, mas se encontram em uma festa no início da Semana do Orgulho Gay e, por conta de acontecimentos inusitados na noite de ambos, acabam por doar-se um ao outro subitamente, encarando juntos, a partir disso, suas dores e sendo acolhimento, força e entendimento em todos os momentos daí para frente.


"Você pode ficar nu com uma pessoa e continuar irreconhecível. Pode ser o segredo de alguém sem nunca saber qual é o segredo inteiro."


Quais são os atrativos desse livro?


Primeiro, a linguagem característica do autor: direta e contundente. Fácil de digerir, os olhos poderiam sobrevoar as páginas pela facilidade de entendimento. Mas não é bem assim, na prática. A gente trava lendo, há passagens que você quer ler e ler de maneira demorada, unicamente porque está sentindo o que lê.


Segundo, os personagens. Como disse anteriormente, há passagens que você quer ler pausando, relendo, sentindo. Porque você se torna capaz de sentir o que Kate e Mark estão sentindo e é incrível se identificar tão fielmente com os dois, tanto com o estereótipo do “cara apaixonado não correspondido” quanto da “menina apaixonada e perdida”. Entendo que isso se deve ao fato – e é aí que peço que se apague essa crença de superficialidade na literatura para jovens – de que a profundidade da abordagem mostra o simples, porém muitas vezes difícil de enxergar: estamos todos procurando e nos tornando algo, estamos todos fugindo e, em seguida, questionando se realmente achamos antes de iniciar uma nova busca.


Terceiro, não se trata de uma história que aborde o tema da homossexualidade em si, pois ele, o autor, está milhares de anos-luz adiantado nesse tema; é sobre relacionamentos, o entendimento do amor, o descobrir como doar-se a alguém, o saber-se amar e tentar se colocar no mundo, descobrir o que fazer. Amo e o que faço agora? É mais ou menos isso.


Recomendo demais esse livro para se entregar por horas ou poucos dias e, acreditem, vocês vão querer tomar nota de várias passagens do livro, cada uma alterando um pouco a respiração ou causando lágrimas nos olhos.

 

Mas não há ilusões aqui. Hoje é finalmente hoje. Nós não somos mais o que éramos. Somos agora o que íamos ser.”

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