Conheço um rapaz que sempre foi muito tímido. Quase não olhava quando as pessoas os cumprimentavam. A cada dia que passava ficava preocupado, pois tinha receio que o achassem um completo arrogante. Sua insegurança era tão indigesta que passou a procurar ajuda para entender o motivo desse receio de conviver.
Aos poucos, lentamente, as coisas foram mudando. Passou a sorrir mais, a conversar, a criar vínculos. Aos 17 anos apaixonou-se por um moço do trabalho e chegou a comentar com uma amiga sobre esse sentimento que lhe era estranho até então. O curioso é que, dias depois, o afortunado passou a cumprimentá-lo — o que achou muito estranho, porque nunca havia percebido sua existência. (Mas havia, sim.)
Até que esse rapaz do trabalho passou a conversar com o introvertido, eram conversas soltas sobre um documento aqui, outro acolá — o que alimentava ainda mais a suspeita que a tal amiga havia falado com ele.
Tudo se confirmou quando um dia o afortunado daquela paixão avassaladora — adolescente adora um amor dramático — o convidou para sair. Na certeza do que a amiga havia feito, virou as contas e foi embora. Mudou de emprego, de cidade e deixou de lado aquela história que mal havia começado.
Tornou-se jornalista, passou a trabalhar em redação, até que se apaixonou outra vez.
O tal rapaz, que já dava como superado as questões do coração, começou a ficar preocupado outra vez. A insegurança, o medo, a falta de controle deixava-o exaurido de modo que não sabia como se comportar.
Num primeiro encontro ensaiava o que ia falar, pensava até na roupa que ia vestir. Tal era o medo do novo, da entrega, de se deixar levar pelos desejos e vontades.
Ele tinha medo da intimidade. Medo, também, de crescer.
Ao se dar conta disso passou a mudar seus hábitos. A encarar a vida como uma aventura ininterrupta. A enfrentar os medos a fim de desmistificar seus traumas. Ousou-se a olhar nos olhos, a demonstrar sentimento, a sentir sensações avassaladoras e inéditas.
O medo de crescer se desconstruía a cada vivência. Percebeu que era inevitável não se frustrar e sofrer. E que a vida é isso: a somatização de todos os sentimentos, essa redoma de sensações capazes de elevar o amadurecimento da existência.
No fim, acabou entendendo que não há como lutar contra o progresso: ou se adere às ofertas da vida, ou viverá na amargura de si mesmo com medo dos fantasmas internos.
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