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[FRANCA MENTE] HISTÓRIA DE AMOR

Por Francine S. C. Camargo •
domingo, 1 de setembro de 2019


Um tanto incerto de si, tentou me afastar, enxotar mesmo, afugentar-me do seu curso. Por minha vez, vagamente inclinei meu rastro para o sentido contrário, mal percebendo que seguia um círculo que orbitava em torno de você. Entre auto censuras, castigos fictícios e certezas apenas teóricas, convenci-me a ficar por ali, em seu abraço, junto ao calor de seu corpo, que agora cuidava de mim, meio assim, para o resto dos dias.

O Amor foi refutado e, mesmo incontestável, resolvi fingir que não era meu, nem destinado a mim porventura um dia. Mas só para se opor e mostrar quem é que estabelece as regras, o Amor nos empurrou contra a parede e gritou que, após muita lágrima e tanta dispensa, ele era nosso e já passava da hora de nos apropriarmos dele.

Então nós o apanhamos, deixamos o Amor entrar, sem mais enrolação, sem blá blá blá. Aliás, o falatório era meu, você só fazia rir, acreditando que no final daria tudo certo, enquanto eu me perguntava quão distante estaria esse epílogo, se é que um dia ele exigiria ser alcançado.

E esse Amor que nos foi entregue assim, de súbito, veio sem tutorial, sem cifra, daí que de tanto folhear páginas em branco, resolvemos elaborar, nós mesmos, as instruções, com aliança, buquê, muito olho no olho, muito faz torto pra tentar fazer de novo o mais certo possível, e, sobretudo, muito respeito e pouca submissão.

Eu sei que a tradição da alegria e tristeza, saúde e doença, riqueza e pobreza fez-se fiel em nossos dias e até fizemos um acordo, fingindo que a eternidade nos pertencia, trocando-a, sem pestanejar, no mercado financeiro pelo hoje, que passa dinâmico, rápido demais para os nossos olhos, mas que é todo nosso e, veja só, continuará sendo no amanhã.

Com frequência, contudo, o Universo parece criar conspirações e uma platéia ilógica ri de nós quando resolvemos fazer planos. Daí que é tudo esboço, desejo, e tanto eu quanto você procuramos saber onde pisar e quando um de nós se mostra cego ou desatento, é o outro que calcula o passo ou diz “pode ir”, nós que não passamos de mero rascunho de nós mesmos.

Contrariando o poeta, aqui há alguma seriedade e muito riso. E uma certa massa de lágrimas, porque nem tudo são fogos de artifício, há dor enjaulada, há emoção grande demais para segurar no ninho. 

E, nessa hora, sei que o Amor veio para a casa certa: as mãos se doam uma a outra, sua alma dialoga com a minha, mesmo com céu nublado, criando um abrigo um para o outro. E os anos passam, as horas se precipitam e o corpo enfraquece, ao passo que um olha para o outro e, com a troca própria do Amor, permite que se possa ser por inteiro.

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