Destaques

[FRANCA MENTE] BALANÇO

Por Francine S. C. Camargo •
domingo, 15 de setembro de 2019


“Ele tinha que possuir tudo antes do fim e tinha que viver uma vida inteira antes do fim”.
(Clarice Lispector, em A maçã no escuro)


Segunda-feira

Seus olhos investigam o coração do dia. Pensa, solitário, se as vozes que turbilhonam essas salas não estariam, na verdade, escapando de sua mente. É possível que uma lua intransigente encha de trevas esse ofício. Mas, por enquanto, tudo é novo e ele espera contar com isso.
Terça-feira

O dia anuncia incertezas, mas o jornal ficou esquecido na porta de casa. Ele caminha apressado pelas avenidas, sem saber para onde elas pretendem levá-lo. Mas chega a algum lugar. E é ali que ele se despe de sua insegurança e repousa tranquilo em sua silenciosa habilidade. As horas passam vagas, o dia passa. E ele sabe que precisa parar.
Quarta-feira

Entre conversas burocráticas, ele ainda espera por novidades, mas as lembranças se distanciam um pouco de seu compromisso atual. Quanto mais vivencia o dia de hoje, menos se sente ligado ao início de tudo. E o início é mais uma resposta para aquela pergunta da qual não se lembra mais. Ele só precisa guiar-se no tempo e garantir que esse dia não seja prolongado.
Quinta-feira

Seu corpo cansado se apoia em suas vontades, pois prefere ainda não certificar-se de seus limites. Mas ele reconhece que a ausência de algo não é contornada pelo tanto que lhe excede. O que sobra é poeira, o que falta, oceano. Inimigas, as horas fraquejam e o dia mal começou.
Sexta-feira

Quantos rostos passam por ele sem atravessá-lo! Quantas palavras se perdem sem que ele se lembre de tê-las proferido! Seus gritos e emoções se perdem muito mais do que seu dia.
Sábado

Já é tempo de ceder, já que seus disfarces não funcionam nem para si mesmo. Num único tropeço, ele cai e não ousa mais erguer-se. Não há noite e nem sonho que prometam o surgimento de um novo dia. Mas, alheio à sua própria dor, ele escolhe esperar.
Domingo

Ele está em pé novamente. De alguma forma, nada continua e, sim, recomeça. É provável que um sol incandescente tenha enchido de calor esse novo dia. Mas, por enquanto, ele preferia acreditar que o brilho era seu.

Comentários via Facebook

0 comentários:

Postar um comentário

Deixe sua opinião para nós do Refúgio Literário

Publicidade

iunique studio criativo

Instagram

    © Refúgio Literário – In Livros