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THIAGO BARROS CRIA UMA NOVA EXPERIÊNCIA LITERÁRIA COM SUA OBRA N(OVO)

Por Nathalie Murcia •
quarta-feira, 10 de julho de 2019

Título: N(Ovo)
Autor: Thiago de Barros
176 páginas

Este livro é sobre o ovo. Não. Este livro é sobre um agente do ovo. Não. Quem veio primeiro? Múltiplas camadas de diferentes dimensões, de narrativas, personagens deste mundo e de outros. Fantasmas célebres, extraterrestres, herdeiros da obviedade do ovo, dialogam em sessões quase espíritas se não mais espirituais, como uma canção. Baladas de um louco. Confissões de voo. Antes do ovo, veio a sombra do ovo. O ovo é o epicentro de tudo neste romance vertiginoso e plurivocal. Magia, fluxo e experimentação. Um salto no vácuo, um despegar do chão. Tudo N(ovo), de novo. 

Um livro complexo, denso e desafiador.  O leitor nunca mais verá o ovo com os mesmos olhos pueris ao fim dessa leitura avassaladora, que rompe barreiras e descortina as múltiplas camadas invisíveis do ovo, assim como sua essência metafísica. Em realidade, não é possível apontar um tema central ou um protagonista, a exemplo dos livros que costumamos ler, seguindo uma linearidade de tempo e espaço. 

Trata-se de uma experiência literária totalmente inovadora, diria até subversiva, com um caráter experimentalista, se classificando como uma das poucas obras contemporâneas que representam o realismo mágico nacional. Daquelas que deixariam Gabriel Garcia Marquez, se estivesse vivo, boquiaberto.

Mas enfim, do que se trata o livro? De muitas coisas. Algumas palpáveis, outras oníricas, outras alucinantes. O ovo, contudo, é o mote, o início e o fim de tudo, da onde reverberam as questões filosóficas e existenciais debatidas, numa espécie de psicografia, por Hilda Hist, Caio Fernando Abreu e Clarisse Lispector. Além de humanos notáveis que já se encontram em outro plano cósmico, fumando, tomando café, e filosofando, outros seres inusitados compõem esse romance insólito e polifônico, tais como bruxos, fantasmas gente boa, cachorros caolhos, bêbados, mendigos, calangos, além seres alados como pássaros, morcegos e anjos. 

A experiência proporcionada pela linguagem metafórica, sinestésica, salpicada de ironia e trechos pungentes, às vezes de uma realidade cortante, e às vezes de um misticismo etéreo, nos conduzem a embarcar nessa viagem alucinante.
Ao fim da leitura, é impossível quedar-se indiferente. E, dentre as diversas conclusões que se podem extrair, uma é inexorável: o ovo não é oco! 

Para quem quiser imergir em uma literatura diferenciada e original, mergulhe de cabeça no Ovo!
Seguem alguns trechos para aquecimento:

        "Olhe o mundo, olhe o ovo. Veja como estão tantos, diferentes de ti. Nem melhores, nem piores, nem invejas, nem remorsos. Seres entes. Nem sempre contentes. Diferentes, diferentes. Os violinos se calaram. O vinho do Cristo hemofílico secou. Restou o café. A solidão dos dias frios, das noites vazias e o café."

     " O cinzeiro abarrotado explodiu em tsunami de cinzas. Donde surgiram os cigarros? Quando os haveria comprado? Na padaria, no mercado? Quantos dias, embotado na casca daquele ovo, casulo, casa? A cabeça de alguém. Homúnculo do barro. Receptáculo dos líquidos negros. O computador mantém o cursor piscando, no editor de texto, a contagem das palavras. Hilda me disse que pelo menos 500 palavras por dia. Melhor que fossem escritas à noite."

No que tange ao projeto gráfico, a edição é muito caprichada. Capa dura, toda preta, em harmonia com a aura gótica da narrativa. O livro vem envolto por uma jacket, na qual Gislene Barral, Artur Cavalcante e Ágata Benício fizeram suas considerações, incrementando a experiência da leitura. Há uma tirinha vermelha para fazer a marcação das páginas. O livro físico é acompanhado do audiolivro.

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1 comentários:

  1. Adorei a leitura atenta.

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