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[RESENHA] BRANCO, DE ANA PAULA BEZ

Por Bruno Marukesu •
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
Autor(a): Ana Paula Bez
Editora: Benfazeja
Ano: 2017
Lido em: novembro de 2018
Nº de Páginas: 96
Onde Comprar: EDITORA BENFAZEJA
Livro cedido pela autora

Ana Paula Bez é um submarino. Uma mergulhadora de longa profundidade que fotografa segredos do fundo do oceano. Sua prosa sacode o tapete sujo da casa e abre as janelas para o riso. Um riso sujo, cafajeste e juvenil. O que me espanta neste livro é sua desenvoltura para detalhar de maneira cômica o universo do protagonista Branco. A autora prova que boa literatura não tem gênero e que tudo depende do olhar do autor. BRANCO parece ter sido escrito por um homem. Parece ter sido escrito por alguém que chafurdou na lama por anos. É o que o bom leitor espera. Vivência. Ser enganado. Ana conseguiu me enganar. Conseguiu fazer parecer verdadeira uma estória de ficção.

BRANCO é dividido em quatro partes: Planície, Planalto, A Queda e Cume. A cada parte o nosso protagonista compartilha trechos de sua vida e destila o seu ódio gratuito a qualquer pessoa que venha a ser o alvo de sua mira crítica e ácida.

 Branco, apelido este que nos últimos segundos da prorrogação do segundo tempo tem o seu significado exposto, levava uma vida que toda pessoa trabalhadora anseia em ter. Com um salário gordo na conta o mesmo fazia viagens por todo o Brasil ministrando workshops de auto-ajuda. Entretanto, Branco desperdiçou tudo isso ao escolher o caminho fácil das drogas e usá-lo como válvula de escape dos sentimentos. Sua história não destoa das que encontramos nas manchetes dos jornais diários e mídias audiovisuais, os seus problemas existenciais não são novidade.

 Durante toda a leitura me atentei na procura do estopim que fez Branco ter a personalidade ranzinza, ácida e desgostosa com a vida que tem, mas não encontrei. Me perguntei se essa era a intenção da autora Ana, demonstrar que pode não haver motivo lógico para uma pessoa ser mau-caráter, que isso nasce junto e só intensifica a medida que o indivíduo interage em sociedade, que não somos tábulas rasas como o filosofo inglês John Locke teorizava.

 Não me senti confortável com o enredo pois o protagonista é um crítico sem razão que crê saber sobre tudo e todos, que vê além da farsa mas que no fim só passa de um hipócrita colocando-se em um pedestal sem olhar para o próprio umbigo. Infelizmente, essa personalidade pode refletir a de várias pessoas na vida real como parentes, amigos e colegas de trabalho. As criticas de Branco não são construtivas, o mesmo somente fofoca sobre a vida alheia ao invés de se autocriticar e tentar descobrir o porquê de agir da maneira que age; e querendo ou não isso tem reflexo na construção do enredo feito pela autora ao optar por não dar sentido para os pensamentos do protagonista e os cenários apresentados, tive a impressão que tudo foi somente um apanhado de situações que a autora ouviu - e presenciou - no dia-a-dia, recolheu e jogou no enredo sem objetivo algum.

 Mas em meio a toda essa confusão de informações desnecessárias ainda assim Ana consegue explorar um triângulo amoroso em que Branco se vê envolvido - por não saber dizer não a quase ninguém - e não encontra uma saída, mas que nos últimos parágrafos da obra decide a porta que deseja abrir e seguir em frente.

 Ana Paula Bez tem uma escrita simples mas tão fluída que me fez devorar amargamente o enredo em poucas horas. É um dom que poucos autores conseguem ter hoje em dia.

 A obra física possui uma edição bem simples mas que agrada aos olhos. Com uma capa que tem relação física aos móveis da edícula onde o protagonista está sofrendo de abstinência, a edição possuí páginas amareladas, fonte das letras em tamanho mediano e espaçamento satisfatório. Tem algumas lacunas em branco aleatórias que ao meu ver eram para ser o começo de um novo capítulo mas que decidiram fazer esse formato para baratear o custo da impressão. Para uma editora independente a Benfazeja arrasou na edição. 👏

 Mesmo com grandes ressalvas quanto à construção do enredo, personagem e clímax, recomendo a obra para todos aqueles que acreditam na literatura nacional. Que tem força de vontade para ler uma história com o ponto de vista de uma maça podre da sociedade.

P. S.: Ana, se o seu objetivo foi explorar o lado de um vilão da vida real só devo te parabenizar pois você conseguiu o seu objetivo com êxito e me fez desgostar imensamente de Branco. 🌈

Comentários via Facebook

4 comentários:

  1. Aline M. Oliveira1 de dezembro de 2018 15:52

    Olá! Parabéns mesmo pra autora, porque eu nem li e já fiquei de cara virada pro Branco, e nem sei se quero ler, pleas lacunas na construção do texto que você disse que existe. Confesso que o jeito do personagem me lembrou mesmo algumas pessoas, e só por isso a autora está no caminho certo. Obrigada pela dica!

    Bjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥

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  2. Olá!
    Sabe que gosto quando a leitura também me causa esse misto, principalmente quando a protagonista consegue ser odiosa. Acho que a autora conduziu bem o enredo e me deixou curiosa para conhecer Branco e suas nuances duvidosas.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  3. Já estou com ranço da protagonista. Normal né? Achei a premissa bem interessante e fiquei curiosa. Quero ler.
    beijos

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  4. Antonia Isadora de Araújo Rodrigues18 de dezembro de 2018 01:13

    Olá Bruno!!!
    Se o objetivo da autora é da gente criar empatia pelo personagem posso dizer que ela conseguiu isso só pelo comentário de sua resenha sobre o livro em si.
    Acho que de certa forma a autora quis trazer o podre da sociedade para que conhecêssemos e fez isso com perfeição. Já odiando e tento ranço do protagonista e ainda nem li o livro rsrsrs
    Parabéns pela sinceridade na resenha!!!

    lereliterario.blogspot.com

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