“Mas comigo mesmo é que eu queria não ser obrigada a mentir. Senão o que me resta? ”
- Clarice Lispector
O despertador alarma os ouvidos para o novo dia, sem pedir licença, na invalidez de sua linguagem, em cartão sem envelope. O blem blem blem interminável se traduz na história que não começa, não termina, só prossegue.
Para quem vive só, muitas vezes o café esfria rápido e perde o aroma se deixado para depois. Quando chuvas tempestivas assomam lá fora, é preciso sublimar o medo, encarar a escuridão e, inclusive, apagar as velas à hora de dormir, a fim de evitar consumir-se em fogo e condenação.
Pode ser até meio inquietante tamanha liberdade: de ir e vir, de ficar ou ausentar-se. É descomplicado ir ao banheiro hora qualquer pois estará vago, com a porta aberta, assim, sem segredo. E não há tormenta em povoar a casa com a decoração que se acomode ao seu gosto. Entretanto, os encargos são privativos, tais como as contas e a louça. E, feito bossa nova, corre-se o risco de tornar-se escravo da solidão.
Para quem vive só, comunicar-se dá um pouco de preguiça, no entanto, os livros, a música, o estudo, filmes, o trabalho, cada atividade pode trazer um pouco de luz à consciência, impedindo que surja o instinto de fera selvagem.
É imprescindível ter seu espaço e oportunidade de pensar em silêncio, já que o excesso de gente, tantas vezes, impede de olhar para dentro.
Mas quando se abre a porta da rua e ouve-se apenas o eco dos passos, não importa quão pequeno seja o ambiente, pois sobra lugar que não termina.
Bom é estar consigo mesmo, o que inspira ser meio artista, meio sonhador, gênio e poeta, meio você mesmo, percorrendo no salão passos de própria criação na dança da solidão.
A solidão cabe bem em tantos momentos, sem caráter depreciativo, é necessária desde que não se alongue demais e nem esconda a alma, em casulo. Pois como crisálida, pode ficar à mercê dos dias, esperando a metamorfose que nunca chega.
Oi! Amei o texto! Achei tão explicativo nas duas faces da solidão! Uma, o fato de se estar só e ser feliz assim, com seu canto e seu silêncio, mas a outra, o fato de se estar só e somente só. Sem aquela troca com outra pessoa, não importando o que. Eu gosto de momentos de solidão, embora em um período da minha vida eu tenha estado só. Gosto da sensação de poder pensar e falar em voz alta, sem ninguém por perto. Mas hoje gosto daquela solidão que eu sei que vai acabar, om a chegada de alguém.. Amei de verdade!
ResponderExcluirBjoxx ~ www.stalker-literaria.com
Oi, Aline. Pois é...pode-se ter momentos só para si mesmo, ser sozinho, estar sozinho e nem por isso deixar de estabelecer relações profundas com as pessoas ao nosso redor. É que na maior parte das vezes a gente precisa primeiro reconquistar essa relação com a gente mesmo. Beijo e obrigada pelos elogios.
ExcluirQue texto perfeito.
ResponderExcluirMuito bem descrito solidao4 realmente tem duas faces ou até mais..
Estar só por escolha é uma coisa e estar só por não ter alguém que se importa é outra.
Seu texto consegue de maneira simples e direta descrever nuances sobre o tema.
Beijos.
www.alempaginas.com
Obrigada, Karini. Beijão para você.
Excluir