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ASSÉDIO SEXUAL

Por Leandro Salgentelli •
domingo, 25 de fevereiro de 2018

Eu estava a caminho do médico, ao meu lado estava o motorista do Uber, foi coisa de minutos: um carro parou ao nosso lado quando observei uma mulher dentro do veículo falando em um tom alto e bem claro para o motorista: "Pare, por favor, não me toca! Eu já disse que não quero!". 

Comentei o equivoco com o motorista que me levava ao hospital se era impressão minha ou ele estava mesmo querendo beijá-la a força, e ele retrucou: "Deve ser a mulher dele!". O sinal abriu e ambos os carros seguiram seu destino. 

Poderia ser a namorada, poderia ser a mulher que acabará de sair do Motel e que tampouco ele sabe o nome. Poderia ser uma brincadeira e poderia ser a mulher dele também, óbvio, mas o fato de ser lhe dá o direito de insistir mesmo contra a vontade dela? Mesmo se fossem casados por tantos anos? 

Não deu tempo de reagir, de perguntar para a moça se estava tudo bem, se precisava de ajuda. Tudo aconteceu muito rápido. Mas enquanto descia do Uber fiquei pensando sobre todas as vezes que já passei pelo mesmo constrangimento. Um homem sendo assediado? Esquisito, não? Mas, sim, já fui. Nunca por uma mulher. No entanto, também, por homens. 

Por um professor no ensino médio, por um homem casado, por um amigo também casado e por um colega na faculdade. Ah, teve um político também. É uma sensação de medo misturado com nojo. Ninguém devia passar por esse tipo de violência – porque, sim, é uma violência. 

A campanha "não é não" chegou para denunciar o assédio sexual e acabar de uma vez por todas com todos os espíritos de porco que habitam em nosso entorno – que são muitos, diga-se de passagem. 

As maiores vítimas sempre foram as mulheres: tanto ricas quanto pobres. É uma prática cultural que vem há décadas – a religião contribuiu muito para a desigualdade de gênero. Por outro lado, assim como existem homens que assediam mulheres, há mulheres que assediam homens, ou esquecemos que elas usam o sexo como forma de chantagem emocional? 

A campanha "mexeu com uma mexeu com todas" mostra o quanto há de falácia e dissimulação, ou vamos esquecer também que as mulheres são competitivas, rivais? Não são elas que disputam sabe-se lá o quê? 

Assim como qualquer movimento, o feminismo sofre com algumas falhas. E falhas graves que não podem deixar de serem mencionadas. Uma delas é deixar os homens fora dessa conversa. 

São tempos caóticos onde o certo e o errado são dois conceitos que não se aplicam mais no cotidiano. É preciso considerar as nuances da vida, que sempre teve, inclusive. O que pra mim é muito claro é que o feminismo veio pra ficar. Ou todos nós passamos a respeitar uns aos outros ou cada vez mais seremos expostos ao mundo virtual. Porque cada vez mais haverá um celular gravando os pequenos crimes corriqueiros ou alguém no carro ao lado observando tudo.

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