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[RESENHA] A BAGACEIRA

Por Bruno Marukesu •
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Autor (a): José Américo de Almeida
Editora: José Olympio
Ano: 2017
Lido em: agosto de 2017
Nº de Páginas: 280
Onde Comprar: AMAZON
Livro cedido em parceria com a editora

A história se passa entre 1898 e 1915, os dois períodos de seca. O enredo central gira em torno do triângulo amoroso entre Soledade, Lúcio e Dagoberto. Soledade, menina sertaneja, retirante da seca, chega ao engenho de Dagoberto, pai de Lúcio, acompanhada de vários retirantes: Valentim, seu pai, Pirunga, seu irmão de criação, e outros que fugiam da seca. Lúcio e Soledade acabam se apaixonando. Mas a relação entre os dois ganha ares dramáticos quando Dagoberto violenta Soledade e faz dela sua amante.

A BAGACEIRA é narrado em terceira pessoa e apresenta a vida de Dagoberto Marçau e seu filho Lúcio, que está de férias, no engenho Marzagão. O foco da obra é a interação desses dois personagens com a jovem retirante Soledade que acompanhada de seu pai Valentim Pedreira e seu irmão postiço Pirunga estão fugindo da seca e pedem emprego no engenho de Dagoberto.

 Devo ser sincero ao expressar a minha grande inquietação com a personalidade dos protagonistas. Nenhum deles é carismático ou bom. Enquanto que Dagoberto é um homem duro, rabugento e de mente fechada, seu filho Lúcio tem a mente aberta mas possuí atitudes para lá de suspeitas e desleais. E o que dizer de Soledade? Diferente de todos os outros enredos clássicos nacionais que li Soledade não é a moça inocente da história que entrega o seu coração ao primeiro homem que bateu os olhos por mais de 60 segundos. Ela é uma personagem, sim, forte mas que é retratada como maquiavélica usando de seus atributos físicos como arma para seduzir homens. Claro que essa atitude dela é mal-vista no enredo e devo confessar que repudiei demais pois ela não estava sendo livre, simplesmente estava colocando pessoas contra pessoas para se beneficiar e isso não foi agradável de ler. Me pareceu que o autor buscava ir contra todos os modelos das mocinhas que já foram retratadas na literatura clássica. Infelizmente, ele me apresentou uma das personagens que mais detestei e tive o desprazer de acompanhar.

 O plano de fundo do enredo é a seca e esse tema é o que tornou a obra um clássico abrindo um novo gênero na literatura ao retratar as desigualdades sociais e dar enfase ao regionalismo nordestino. Entretanto, no decorrer de toda a leitura não vi isso como o foco. Não. Vi como foco somente a relação dos personagens ao lidar com uma moça imprevisível, volátil e misteriosa. Não vi como denúncia a mente fechada dos homens da época, mas somente o compartilhar das personalidades tão comuns até os dias de hoje em várias regiões - devo enfatizar - do país; não tem nenhum personagem questionando a maneira de pensar do outro, somente reforçando as atitudes arcaicas. Isso me deu a impressão que o autor não procurava uma mudança na forma de pensar, queria somente retratar como uma fotografia o Sertão e se de fato esse era o objetivo José Américo de Almeida teve êxito em sua empreitada.

 Admito que fiquei muito surpreso com os capítulos finais da obra pois houve reviravoltas que não esperava e nem havia cogitado tais caminhos. Para um autor clássico ele foi bastante imprevisível em concluir a sua obra de maneira impactante e agoniante. Bato palmas para o autor. 👏

 A edição física possui uma capa poderosa, cuidadosa e linda de admirar e ter na estante. As páginas são amareladas e os capítulos pequenos. A fonte das letras é mediana.

 Devo alertar aos que buscam se aventurar nessa obra que a escrita do autor não é simples, ele abusa de palavras desconhecidas e mesmo nessa edição que me parece comemorativa não foi apagado esse traço que é característico do autor e de seu tempo. Recomendo fortemente ter o navegador Google por perto para dar pesquisadas para uma melhorar compreensão das frases e vocábulos.

 E para quem gosta de saber além da obra, todo o histórico das edições passadas e como foi a recepção do livro no âmbito literário essa 45ª edição apresenta uma introdução feita por M. Cavalcanti Proença que bota as cartas na mesa sobre como foi a recepção de A BAGACEIRA no decorrer das décadas.

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