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A tal da liberdade

Por Leandro Salgentelli •
domingo, 19 de novembro de 2017

Eu estava numa mesa envolta de dois “amigos” quando começaram a cuspir pra fora o lado mais selvagem e primitivo que se possam imaginar. E ouvindo alguns comentários a respeito sobre a homossexualidade e escolhas particulares que não tem desrespeito a ninguém, comecei a ficar inquieto na cadeira cuja vontade era de fugir dali. Nisso, comecei a indagar: o que estou fazendo aqui nesta mesa com pessoas que não tenho (ou descobri que não tinha) qualquer tipo de empatia? E ali, ao lado deles, fiquei questionando a pessoa que me tornei.

Se esta mesma ocasião ocorresse dez anos atrás, aposto que estaria debochando junto com os desprovidos de qualquer empatia sobre situações que não condizem com as verdades absolutas. O que me fez distanciar tanto daquilo que eu era? A única resposta que me chega é a literatura. Eu não seria quem sou sem os livros. Pessoas que não tem um pingo de sensibilidade e compaixão com o próximo, pessoas que não sabem respeitar as escolhas dos outros, suas necessidades, suas vontades, enfim, não respeitam absolutamente nada, não merecem ocupar as conversas que os livros me proporcionam.

Eu já não me sinto confortável em lugares que preciso dar explicações sobre minhas opiniões, em lugares que qualquer palavra que saia da sua boca é compreendida pela subjetividade, como se a qualquer momento aquilo que estou dizendo fosse revelar quem sou.

Já não tenho paciência para cumprir o que a solenidade manda. Não tenho mais paciência para ignorância, para conversas fiadas, para amizades fingidas. Não quero estar em lugares que meus pensamentos não se conectam. Não quero mais nada daquilo que me exija ser quem não sou, para teatro de última hora, para papel que não tenho interesse em interpretar. Não quero ser amigo de espírito de porco cuja única função é ser debochador da desgraça alheia. Não quero ser amigo de quem não tem um pingo de sensibilidade para se colocar no lugar do outro.

Penso no homem que me tornei e chego à conclusão que estou vivendo aquilo que sempre quis alcançar: ficar liberto da domesticação, da farsa, do reducionismo, do preconceito. Liberto da maldita pretensa que as pessoas depositam.

Por fim, levantei da cadeira admitindo um compromisso que não tinha, para um lugar que não conhecia, mas que acabou me salvando de um enfadonho e perverso papo que não levaria a lugar algum. Liberdade nada mais é do que isso: desprender do social a fim de encontrar a si mesmo — nem que precise dizer baby até nunca mais.

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