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FLUXO DE PENSAMENTOS

Por Delson Neto •
sábado, 16 de setembro de 2017

 Hey, galerinha! Tudo bem com vocês?

 Hoje trouxe algo a respeito dessa lenda urbana de que escritor é um ser solitário e o eterno antagonismo que vivemos como pessoas criativas. É um vômito criativo, por assim dizer. Um amontoado de pensamentos que tive ao longo desta semana. :)

 Cada vez mais eu percebo que possuo um distanciamento social. Seja quando estou triste, ou quando estou criativo (coisas que ironicamente costumam caminhar juntas), não consigo, por mais que eu tente, dar a atenção que eu queria para todos que estimo e estão por perto. Algumas pessoas eu falo diariamente, convivo, e parece que independente do meu humor, a aproximação e conversas casuais ocorrem de forma natural. Agora, quando estou neste estado catatônico entre o exercício da minha criatividade ou o exorcismo das minhas dores, meu costume é me isolar de determinadas bolhas sociais.

 Há uma mal muito grande neste mundo moderno em que as comunicações são tão intrínsecas no nosso dia a dia. Não se tem mais o prazer de ficar sozinho, de responder e falar na hora que você quiser. Pode ser egoísmo – e, com certeza, há uma boa dose disso –, mas não seria mais justo se todos fossemos mais empáticos a ponto de compreendermos que o planeta não gira em torno da função de enviar uma resposta online de imediato? Porém, na mesma medida, a pessoa do outro lado pode estar precisando de você, e nós dentro de nossos mundinhos, nos esquecemos que a necessidade do próximo continua indiferente do quanto estejamos presentes ou não.

 É um antagonismo enorme este romantismo do escritor moderno e solitário. Nós romantizamos sim isto ao longo do tempo, de forma que acabou enraizado nas nossas características subconscientes – ou não tão escondidas assim, talvez tenhamos plena noção disso e, como eu disse no início, transformamos isto em uma desculpa para criar esta nossa persona intangível e muito ocupada. A verdade é que procrastinamos mais do que fazemos qualquer coisa, porém, ainda que o exercício da escrita e a ocupação nele não aconteça a toda hora, nossa cabeça sempre está em diversos lugares, criando novas histórias. E costumamos passar mais tempo de lazer nestes universos paralelos do que no devido chão embaixo de nossos pés. Cabeça nas nuvens e pés nem tão no chão assim.

 Criamos nossos universos para permanecermos neles, pois assim evitamos as resoluções de problemas reais. Evitamos pessoas indesejadas, ou boas amizades que simplesmente não queremos conversar e exercitar o diálogo durante a semana. Erguemos muralhas contra situações de perigo, fugimos do que pode nos atingir. E isso é errado em muitos níveis: um escritor fala com o público, precisa dele, então por que corremos na direção oposta? Por charme? Egocentrismo? Talvez seja porque não queremos nos tornar responsáveis pelos nossos textos.

 Ao publicar algo, a pessoa por trás da obra despe um pouco de si. Mostrar o que está abaixo de nossas inúmeras camadas não costuma ser fácil, ou rotineiro. Exige muito de alguém exibir aquilo que lhe machuca, que te faz errar e te torna humano. Como lidar com tal desapego de emoções tão frágeis e ali, exibidas para quem quiser conhecê-las? Tomar distância, fingir que aquilo não nos pertence parece ser o melhor quando reparamos no que foi feito.

 Mas o melhor não é necessariamente o correto. A imagem do escritor solitário acaba se tornando uma zona de conforto por estas e outras questões, contudo, é mais uma das ilusões que botamos em prática. Nós precisamos de companhia parar lidar com nossos próprios demônios. Ninguém sai dessa vida sozinho, sequer nossas obras sairão deste plano sem ao menos um leitor que as conheça; não é profetizar, nem ser otimista, é enxergar o óbvio – o mundo é muito grande para que nada seja tocado e para que permaneçamos assim tão isolados.

 Às vezes teimamos em persistir no silêncio de nossas criações, contudo, compartilhar é preciso. E de vez em quando se dar o espaço de isolamento também – perceba, de vez em quando, não torne isto um bem necessário. Ser arte é equilibrar forças tão opostas, é entender que amar o outro e abraçar a si mesmo não são coisas tão distantes, e sim que se complementam. Há tempo para tudo: para quietude e som, para luta e calmaria. Deve-se haver prazer em ficar sozinho, mas devemos apreciar quem está por perto. Viver e criar nunca será fácil. Viver de criar será menos ainda.

 Até a próxima!

Comentários via Facebook

1 comentários:

  1. Interessante falar do nosso recolhimento para a escrita. Não vou lhe dizer que nunca o fiz, pois acho necessário para a criação, o silêncio e a alma do criar. Mas sei também, que não podemos nos manter afastados do convívio com outros seres humanos. Precisamos disto para viver e evoluir em todas as matrizes de convívio. O que seria de nós, escritores, se realmente só ficássemos retidos em casa, esquecidos da vida lá de fora. Onde poderíamos encontrar os temas do nosso desenvolver na literatura? Já ouvi referencias sobre o fato de eu ficar muito tempo dentro de mim mesma, como coisas de escritor... Que era uma coisa normal. Será? Um abração, amigo Delson.

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