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VIDA - UMA INCÓGNITA PARA TODOS

Por Salvattore Mairton •
domingo, 4 de dezembro de 2016

 À medida que a gente cresce vamos dando conta do quanto viver é exaustivo. Que tudo aquilo que definimos como absoluto e concreto podem ter oscilações. Que todas as nossas certezas, que não passam de medos inconfessos, são dúvidas que dificilmente serão respondidas. Quando a gente cresce, a gente percebe que não temos controle absolutamente de nada. 
 Quem imaginária que o avião que transportava o Time Chapecoense até a Colômbia fosse ter um desfecho desses. Arquitetamos o rumo que vamos tomar, onde queremos chegar, planejamos cautelosamente a vida, mas a qualquer momento o percurso pode mudar. 

 Quem esperava o fim que se deu para Domingos Montagner, que morreu afogado no rio São Francisco, em Canindé, sertão sergipano, horas após a gravação de “Velho Chico”, e que recentemente foi eleito melhor ator no “Prêmio Extra de TV”. Imagino como deve ser difícil encarar uma realidade que muitas vezes nem foi cogitada. Quando num dia em que devia ser como outro qualquer recebe a notícia que mudará o rumo da história. 
FOTOGRAFIA: CAROLINE DI STEFANO

 Há poucos dias, estive no hospital, aqui onde moro, em Jundiaí, para acompanhar minha mãe numa cirurgia. Meu chão desabou quando o médico falou comigo sobre os riscos, sobre o procedimento; de modo que não tinha noção do quanto eles são trágicos, sempre preparam a gente para o pior. Mas naquele momento, enquanto me explicava sobre o quão poderia ser delicado a cirurgia, tudo que cogitava importante desapareceu. O futuro desapareceu. Nada mais fazia sentido —, aliás, nada faz sentindo quando a morte entra em perspectiva. Todas as nossas certezas desaparecem. Toda nossa ganância, nossa inveja, nossa vontade de vencer. 
 Fico me perguntando, então, o que é a vida? O que é a vida? 

 A vida talvez seja o que Leandro Karnal respondeu ao ser entrevistado por Antônio Abujamra, no programa “Provocações”, quando fez referência no texto do Padre Antônio Vieira: “Porque provavelmente me falta à última, de todas as descobertas, a mais densa de todas, que é a morte. Talvez eu possa responder naquele momento em que Vieira disse que se fecha atrás de nós uma porta eterna e se abre outra eterna e eu estou no meio dos dois caminhos e não posso retroceder e tenho medo de avançar”. 

 Talvez seja isso. Talvez a vida seja irrefutável e o que dá sentido é a forma como a enxergamos. A impressão que tenho é que permanecerá intocável. O tempo sempre será condutor da ordem e o significado da vida só aparecerá quando o passado, o presente e o futuro não forem tangíveis. Quando as nossas lembranças virarem pó, um sopro, um suspiro. Talvez nesse momento vamos entender que lógica nenhuma eternizará aquilo que ficou: a memória que deixamos e as perguntas que não fazem mais sentido nenhum tentar responder. 

Comentários via Facebook

40 comentários:

  1. Meu amigo, como sempre você conseguiu me transportar para um universo de reflexão e introspecção com o seu texto. É por isso que sou sua fã! Quem lhe conhece, sabe o quanto de você há em cada uma de suas palavras. Parabéns, esta crônica, sem dúvidas, entrou na lista das minhas favoritas! Te amo, Leh! Sucesso, sucesso, sucesso!
    Beijocas!

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    1. Leandro Salgentelli7 de dezembro de 2016 13:01

      Suh, enquanto lia sua mensagem meu coração saltou pela boca, nossa, muito obrigado por ser minha best, por estar comigo sempre (você está mais próxima de mim do que muita gente que ao meu redor), obrigado pela confiança também. Almejo sempre seu sucesso. Você é um sucesso. Um beijo carinhoso. <3

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  • Muito boa a crônica de hoje.
    Sempre que somos obrigados a lidar com a perda, essas questões sobre a vida surgem inevitavelmente!
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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    1. Leandro Salgentelli7 de dezembro de 2016 13:03

      Camila, você está coberta de razão. A gente devia ficar com essa sensação de perda o tempo todo para dar valor aos minutos, a uma conversa; dar valor a si mesmo, por a gente também merece paz. Um beijo e muito obrigado pelo comentário.

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  • Olá, tudo bem?
    Nossa que texto lindo. Parabéns.Bem pensado para o momento em que estamos vivendo.Não apenas de reflexão a cerca de tantas perdas tragicas, mas o momento natalino e passagem de ano, nos quais são deixadas coisas para trás e novos sonhos são formados. Lembrar que a visa é unica, rápida e passageira deveria ser a nossa maior meta para o ano novo. Amar as pessoas, realizar sonhos, viver intensamente. Não imaginamos o que pode ( ou não) acontecer amanhã e eternizar os bons momentos é realmente a unica coisa que fica. Beijos

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    1. Leandro Salgentelli7 de dezembro de 2016 13:44

      " Lembrar que a visa é unica, rápida e passageira deveria ser a nossa maior meta para o ano novo. Amar as pessoas, realizar sonhos, viver intensamente." Fabi, é exatamente isso. Que consigamos dizer o que sentimos dentro, que possamos abrir os nosso corações, se arriscar mais, enfim, tudo isso tá valendo a partir de agora. Um beijo carinhoso e obrigado pelo comentário tão inspirador. ;)

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  • Coleções literárias5 de dezembro de 2016 00:41

    Olá.
    Não curto muito crônicas, mas a sua me deixou pensativa.
    Suas palavras foram de grande impacto e devo lhe parabenizar pelo lindo texto tão bem escrito, muito reflexivel. Adorei o ultimo paragrafo, você fechou a crônica com chave de ouro, perfeitamente.
    Parabéns pelo talento.

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    1. Leandro Salgentelli7 de dezembro de 2016 13:46

      É sério que não curte crônicas? Você precisa conviver mais comigo. (hahaha) Obrigado pelo imenso carinho. Um beijo até mais.

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  • Olá,
    Adorei o texto.
    Sempre fazemos tantos planos para o futuro, onde queremos estar, o que queremos conquistar. Mas nos esquecemos que nesse percurso tudo pode acontecer, que podemos não estar vivos amanhã, que alguém que amamos pode não estar presente para ver tudo isso ao nosso lado.
    É muito doloroso pensar assim, mas é o que temos não é?!

    http://leitoradescontrolada.blogspot.com.br/

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    1. Leandro Salgentelli7 de dezembro de 2016 13:52

      Michele, obrigado pelo comentário. Realmente, a gente esquece das coisas muito fácil, não devia. Estou seguindo sua página e seu blog um beijo. <3

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  • Adorei o texto. Fundamental para o momento em que estamos vivendo, após os ocorridos, venho ficando cada vez mais assustada com o futuro,imaginando se meus parentes e amigos estão bem. Pois, como você disse, em um momento tudo pode mudar. O texto me deixou bastante reflexiva. Parabéns.

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    1. Leandro Salgentelli7 de dezembro de 2016 13:55

      Manuh, obrigado pelo comentário. Não fique assustada. Essas coisas não costumam acontecer duas vezes, já que tomamos providência sempre depois de uma tragédia... Apenas aproveite a vida nesse pequeno e quase nada tempo de vida que temos todos. Um beijo carinhoso e até o próximo domingo. ;)

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  • Olá!
    Nossa, que texto mais extraordinário. Essa incerteza da vida é o que me move, sabe? Eu gosto de planejamento de imaginar o que vou fazer e o que vai acontecer, mas é tudo tão incerto que, provavelmente, não acontecerá como eu imagino.
    Essa fatalidade com o acidente do Chapecoense foi um baque, assim como muitas outras notícias, isso dói demais.
    Beijos ♥

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    1. Leandro Salgentelli7 de dezembro de 2016 13:58

      Bruna, que clareza você tem. Fiquei devidamente impressionado. Exatamente, planejamos uma coisa e sempre pode acontecer outra. Só temos que tomar cuidado para não nos tornarmos trágicos, aqueles que sempre esperam o pior. Um beijo carinhoso e até domingo. :)

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  • Eu também me pergunto sempre, o que é a vida? Já perdi tantos entes queridos, cunhado,irmão, pai, mãe, avós, sogros, tios, primos, amigos...que fico sem resposta para essa pergunta. Ficam a saudade e as fotos (que desbotam ao longo do tempo). Depois desse acidente na Colômbia tenho mais certeza, ainda, de que ninguém parte antes da hora. Não podemos viver esperando pelo pior, porém, temos que aproveitar cada momento como se fosse único. E temos que ser gratos pela vida no momento em que acordamos.
    Parabéns pela crônica!! Abraço.

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    1. Leandro Salgentelli8 de dezembro de 2016 14:10

      Cidália, fiquei sem palavras depois desse seu relato. O que dizer? Apenas digo que sinto muito, muito mesmo, por todas as suas perdas. Que consigamos seguir em frente. Um beijo carinhoso. :)

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  • Realmente a vida é uma incógnita! Mas, não podemos deixar que isso defina as nossas vidas, porém também não sou a favor de viver a vida totalmente como se não houvesse amanhã, pois o amanhã pode chegar, já que o futuro é incerto. Sou a favor de fazer tudo o que se deseja, na hora em que se deseja desde que seja dentro de um "limite".
    O que aconteceu com o time da chapecoense foi uma tragédia sem tamanho, foi muito doloroso de acompanhar e me coloquei no lugar das pessoas que perderam alguém, deve ser algo impensável e muito doloroso.
    Adorei o post!

    Beijos,
    entreoculoselivros.blogspot.com.br

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    1. Leandro Salgentelli8 de dezembro de 2016 14:12

      Thayenne, obrigado pelo comentário, você está coberta de razão. Seguindo seu blog. Um beijo.

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  • Eita, que palavras hein? Realmente, é muito ruim quando você planeja algo, cria toda uma expectativa para depois ser completamente diferente. Algumas coisas não podemos decidir ou planejar, elas simplesmente acontecem :( Gostei bastante da tua postagem, parabéns!

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    1. Leandro Salgentelli8 de dezembro de 2016 14:14

      Julia, obrigado pelo carinho, espero que te ver por aqui mais vezes. Um beijo grande. :)

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  • Olá meu caro, excelente texto. Fico pensando nessas pessoas que morreram nos acidentes de aviões que tem ocorrido ultimamente, quando é pra ser, vai ser. Mas devemos aproveitar nosso hoje com pessoas que amamos e queremos estar sempre perto.

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    1. Leandro Salgentelli10 de dezembro de 2016 12:30

      Rafael, você está coberto de razão. Aproveitar ao máximo, sempre. Abraço.

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  • Nossa, cara que texto! Tocou profundamente em mim.
    Helloo, tudo numa nice?!
    Bem, por onde começar... Primeira vez que leio uma crônica tua e já achei maravilhosa e condizente com esses últimos dias. Esse ano está levando tantas pessoas e esperando mais e mais até levar tudo quanto deseja. Eu fiquei chocada e chorei por vários dias acerca da tragédia da Chapecoense. Essas tragédias são coisas que estão fora de nosso controle por mais que tentemos segurar a ponta do fio.
    Há algum tempo, uma avó minha morreu e eu meio que entrei em parafuso. Tive uma crise existencial longa e complicada. Mas lembro com muitos detalhes das palavras da minha irmã naquele dia quando recebemos a notícia, essas foram as exatas palavras dela: A morte não faz exigências. Ela vem para qualquer um e a qualquer momento. Só devemos viver o máximo cada dia como se fosse o último.
    Enfim, ótimo texto.
    Beijin...
    Pieces of Alana Gabriela

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    1. Leandro Salgentelli10 de dezembro de 2016 12:34

      Você é que me tocou profundamente, Alana, sabe porquê? Pela sensibilidade. E quem enxerga o outro este na nos rol daqueles que quero bem próximo, sinta-se bem-vinda. Foi uma tragédia irreparável, uma negligência. Sinto muito pela sua avó. Sei como é essas coisas... Sua irmã está coberta de razão, a vida pode acabar assim, na espontaneidade da coisa. O que nos resta é aproveitar ao máximo. Um beijo bem grande, pega ele aí. ;)

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  • é engraçado como a gente tem uma visão sobre a vida e de repente, em um pequeno instante tudo muda. Acontecimentos como o do avião nos fazem colocar nos fazem pensar na fragilidade e rapidez com que a vida é interrompida, embora quando os acontecimentos são mais próximos (como no seu caso com sua mãe) tudo entra em uma perspectiva e nos faz pensar e repensar tudo, não é?
    Adorei o texto e poder pensar algumas coisas com ele :)
    Beijinhos,
    Lica
    Amores e Livros

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    1. Leandro Salgentelli14 de dezembro de 2016 15:48

      Exatamente, Lica, quando a morte entra em perspectiva a gente para pra repensar o nosso lugar. O quanto somos insignificantes. Obrigado pelo comentário. Um beijo.

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  • Olá, querido. Fantástica sua reflexão. A vida é de fato um suspiro, que precisa ser experienciado da maneira mais intensa que puder ser. Afinal, só temos o agora e ainda ele é incerto, não é?

    Sua mãe está melhor? Passei por uma situação semelhante, mamãe operou há 3 meses aí no hospital São Vicente.

    Espero que esteja tudo bem ;)

    Beijo

    Leitoras Inquietas

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    1. Leandro Salgentelli14 de dezembro de 2016 15:50

      Krisna, adorei você. Que olhar que tem pra vida. Concordo contigo, até o agora é incerto. Está sim, está sem dor, comendo pouco, está se recuperando... Você é de Jundiaí? Fiquei curioso. Um beijo bem grande.

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  • Texto que traduziu direitinho o que eu estava pensando essa semana. A gente faz tantos planos , mas não temos controle sobre eles. É só lembrar do que queríamos ser quando crianças e se nos tornamos o que queríamos. Adorei o texto , continue escrevendo.

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    1. Leandro Salgentelli14 de dezembro de 2016 15:51

      Anne, obrigado pelo comentário e pelo carinho. Espero ter ver aqui mais vezes. Um beijo enorme.

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  • Nossa, que interessante a coluna e o texto! Primeiro, parabéns pela ideia. Escrevo desse jeito e é bacana ver que as pessoas correspondem. Segundo, amei o que li. Acho que é a incerteza da vida que dá o tom da nossa. Acho que, se vivêssemos sem isso, não teria tanta graça. Ótima reflexão!

    Carolina Gama

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    1. Leandro Salgentelli14 de dezembro de 2016 15:54

      Carolina, obrigado pelas palavras tão dóceis, fico vislumbrando com a reação do pessoal. Exatamente, não teria tanta graça porque o definitivo nunca teve graça. Um beijo.

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  • Olá!
    Que belo texto, bem reflexivo, ainda mais com os acontecimentos recentes, a vida passa assim que nem percebemos, uma hora estamos aqui e na outra não. É uma coisa muito estranha que eu temo muito. Imagino como deve ser receber a noticia dos riscos da cirurgia, mas espero que esteja tudo bem com sua mãe. Parabéns pela texto!

    Beijos!
    http://lovesbooksandcupcakes.blogspot.com.br/

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    1. Leandro Salgentelli14 de dezembro de 2016 15:59

      Olá, Tahis, diferente seu nome. Adorei. Obrigado pelo comentário. Você perde o chão com uma notícia dessas, mas é bom, é sempre bom se desconstruir a fim de torna-se alguém melhor. Depois desse ocorrido não ando evitando mais nada, faço os que minhas vontades mandam, claro, sempre com responsabilidade e maturidade, isso é tão bom... Minha mãe está bem, está se recuperando, mas já está planejando uma viagem. É uma danada. rsrsrs Um beijo. Estou seguindo seu blog.

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