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Entrevista com o Autor Do Polêmico Livro "O Namorado do Papai Ronca": Plínio Camillo

Por Salvattore Mairton •
quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Em outro momento do Blog, falei para vocês do polêmico livro de Plínio Camillo, “O Namorado do Papai Ronca” (Clique Aqui).

 Hoje venho trazendo uma entrevista do autor, exclusiva para o nosso blog. Confira:
Plínio Camillo


Blog STC - Faça uma breve biografia sua
Plínio Camillo – nasceu em 26 de novembro de 1960. Aos três anos descobriu que as letras tinham significados. Aos cinco, a interrogação. Aos nove, não era sintético. Aos 12, quis ser espacial. Aos 15, conquistou a exclamação. Aos 17 viu os morfemas. Aos 20 estava no palco. Aos 22 se viu como um advérbio. Aos 25 desenredou a lingüística. Aos 27 redescobriu as reticências. Aos 30, a juventude. Aos 35 recebeu o maior presente: a filha que lhe trouxe a felicidade. Aos 40 desvendou uma ligeira maturidade. Aos 41 volta ao verbo. Aos 45 recebeu o prazer de viver em adjunto adverbial de companhia. Aos 50 anos, tenta fazer ginásticas pela manhã e lembrar dos sonhos. Aos 52 usa óculos até para atender telefone. Hoje se diverte escrevendo. Participa dos seguintes blogs: Coração Peludo -http://cervejaerua.wordpress.com. Coletivo Claraboia -http://coletivoclaraboia.wordpress.com/e O namorado do papai ronca -http://pliniocamillo.wordpress.com/

Blog STC - Como descobriu seu dom para escritor?
Plínio Camillo Sempre gostei de criar histórias. Para dormir recriava histórias para pegar no sono. Fui Homem-Aranha, Batman e o Demolidor. Mais tarde, na angustiosa adolescência, cometi vários poemas, sem nenhuma chama poética. Sempre tentando escrever, contar histórias. E fiz. Fiz e não mostrei para ninguém. Chegando na maturidade, sem querer, atrevi a freqüentar uma oficina de criação literária. Por dever de aluno, tive que colocar algumas produções para a apreciação do orientador e dos colegas. Descobri que tinha uma voz literária. Que tinha influências e até histórias para contar. Tomei coragem e comecei a empreender pelas letras. Enfim, para mim não é um dom é sim uma  doce recreação.

Blog STC - De onde Surgiu a Ideia de Escrever um Livro com um Tema Tão Polêmico, o homossexualismo?

Plínio Camillo Procurava um título a princípio era para ser um roteiro de filme que pudesse definir o personagem principal e o seu ponto de vista.  “O namorado do papai ronca” foi um achado! Ele retratava perfeitamente o personagem principal: um pré-adolescente ou criança que está incomodado com o ronco há incômodo maior do que o ronco? do companheiro do pai. Ele sabe que o casal dorme junto, sabe a situação sexual do pai e convive bem com isto. Mas, como é um adolescente normal, não deixa de ter uma pequena ponta de ciúmes a velha implicância com o parceiro do pai.

Definido o protagonista, os personagens de apoio e o tipo de narrador   primeira pessoa do presente do indicativo , busquei limitar um espaço geográfico, por isso escolhi uma cidade pequena do interior de São Paulo. Depois defini o espaço de tempo em que a história se desenrolaria   seis meses enquanto a mãe faz um curso no exterior. Escolhi que cada capítulo abrangeria quinze dias e neles seriam tratados: a relação Dante e a escola, Dante e a mãe conversando pelo Skype  e Dante e o pai. Escrevi um resumo, e a planta baixa de cada capítulo com cada assunto que seria tratado. Respirei e fui escrever. Sabia por onde ia, o quanto me distanciava do caminho e, assim, ia também descobrindo novos caminhos. Depois do primeiro texto, reescrevi tudo. Limpando e tirando as gorduras.

Blog STC - Fale um pouco do que trata o livro.

Plínio Camillo Um thriller em linguagem de roteiro que acompanha seis meses bastante especiais na vida de um adolescente também muito especial no período em que ele sai da grande metrópole para morar uns tempos com o pai numa pequena cidade do interior, enquanto a mãe vai para a Itália com projetos de estudos e trabalho.
Com recortes de diálogos via Messenger revelam o modo como Dante se relaciona com os amigos no jogo de aparências tão comuns na adolescência. Já os contatos diários via Skype com a mãe demonstram o quanto ele ainda tem de criança, sentindo falta de seu colo e sua proteção.
O título, provocativo, nos faz refletir indiretamente sobre a questão homoerótica uma vez que o fato do pai relacionar-se amorosamente com outro homem é o menor dos problemas desse menino que vive tão intensamente cada momento e cada gol.

Blog STC - você se baseou em alguma historia verídica para a criação do livro?

Plínio Camillo Esta história  foi cruelmente baseada em fatos irreais.

Blog STC - Li que seu livro foi editado e publicado, depois de você ganhar um concurso, que concurso é esse?

Plínio Camillo Ele foi contemplado pelo ProAC - Edital nº 32/2011 - Concurso de apoio a projeto de primeira publicação de livro do Estado de São Paulo – Brasil. Foi muito bom! Imagine: escrevi o livro em um surto de quatro meses. Escrevi do jeito que queria e no tempo que queria. Enviei apenas três capítulos para a seleção. E um grupo de pessoas, por mim desconhecidas, aprovou! Percebi que o que eu tinha produzido possuía um valor. Fiquei orgulhoso. Fiquei contente, comprometido. Tentei fazer o melhor livro possível, pois, além de ser um prêmio, era um prêmio com o dinheiro público.

Blog STC - Você tem outros livros publicados? Quais?

Plínio Camillo Solo ainda não. Tenho a contribuição em outras publicações:
Abigail – Sinopse: Um grupo de autores se reúne para tentar responder: quem é Abigail? Qual seu gênero? Sua história? O resultado, uma coletânea de contos além da imaginação. Publicado pela Editora Terracota – São Paulo
Assim você me mata - Coletânea de contos versando pelo universo brega também organizado pela Editora Terracota – São Paulo

Blog STC - Tem algum livro em frase de criação?

Plínio Camillo Tenho três:
Bombons sortidos Coletânea de contos
Biografia não autorizada de minha mãe romance histórico também baseado em fatos irreais
Efegô – romance de aventuras

Blog STC - Quais são seus autores e livros favoritos?

Plínio Camillo Além dos clássicos.

Tenho:
Andréa del Fuego – com o livro “OS MALAQUIAS
Daniel Lopes – “PIANISTA BOXEADOR” – Contos
Luiz Brás – Paraíso Líquido
Marcelino Freire com o livro “ANGU DE SANGUE
Marcelo Maluf com o livro “ESQUECE TUDO AGORA” – Contos
Petê Rosseti – “RÉQUIEM: SONHOS PROIBIDOS” – Romance

Blog STC - O que você pensa sobre a Homofobia?

Plínio Camillo É inadmissível! Somos diferentes e temos direitos iguais.

Blog STC - Alguém já falou mau do seu livro? Algum tipo de rejeição, pelo tema?

Plínio Camillo Não na minha frente!
Nem nas minhas costas.

Blog STC - Onde os leitores podem lhe encontrar, para entrar em contato com você?

Plínio Camillo No site da Livraria Cultura: http://www.livrariacultura.com.br

Blog STC - Deixe suas considerações finais...

Plínio Camillo Agradeço a oportunidade de poder conversar com você e principalmente a oportunidade de participar de um espaço de divulgação de obras literárias. Muito obrigado!!



Confira Um Trecho do Livro: O Namorado do Papai Ronca

— Você é gay, pai?
— Como?
— Quero saber se você é gay?
— O que é ser gay, filho?
— Pai! Estou perguntando e não quero responder!
— Filho, sou um homem que adora o filho que tem e que ama outro homem.
— Mas então é gay!
— Não sei. Sou alguém que gosta do que é.
— Não é gay?
— Filho!
— É, ou não é?
— Sem entender o que você quer dizer não sei responder.
— Então tá: gay é aquele que anda rebolando, fala fino e faz coisas como se fosse uma mulher.
— Então eu não sou.
— E que também transa com homem.
— Então eu sou.
— Mas você transou com a minha mãe?
— Sim, querendo, gostando dela.
— É ou não é?
— Imagine se é difícil entender, muito mais é viver. Gostei, amei muito a sua mãe. Ficamos juntos muito tempo. Ficamos juntos querendo ficar. Um dia deixamos de gostar de ficar juntos.
— Eu sei, sempre dizem isto.
— Então, depois comecei a me perceber. Ouvir a mim mesmo. Nunca quis ser uma mulher ou outra coisa diferente do que sou. Nem sempre tendo focinho de porco, pé de porco, orelha de porco é porco.
— Então o que é?
— Pode ser uma feijoada.
— Então você saiu do armário?
— Nunca estive em um, sou um professor e nem por isto me sinto menor ou menos importante do que um médico. Sou um homem que ama outro homem, e não me sinto menor e nem pior que outro homem qualquer.
— Sei.
— Com todas as dificuldades, com as certezas, estou muito mais feliz, tranquilo. Sei que sua avó não quer falar comigo. Sei que me olham torto, imagino o quanto é difícil para você.
— Mas pai, antes nunca foi! Agora é estranho, meio complicado.
— Imagino.
— Para mim é um problema seu e não meu.
— Para mim não é mais um problema, mas é para você.
— Um pouco.
— Não procure rótulos, gavetas ou encaixes; por sorte, ou azar, somos todos diferentes, com diferentes olhares, diferentes formas de ver, sorrir e andar. E, principalmente, nem sempre o que é diferente da gente é ruim.
— Difícil!
— Sim, é.


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